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Agora cidadão italiano, Gianecchini estreia peça sobre fascismo

O ator Reynaldo Gianecchini estreia no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, a peça “Um Dia Muito Especial”, adaptação teatral do filme italiano “Una Giornata Particolare” (1977), de Ettore Scola, e que chega para reforçar a conexão de um dos maiores astros da TV brasileira no século 21 com o “Belpaese”.

Cidadão italiano, “Gianne” interpreta Gabriele, um ex-radialista perseguido por conta de sua homossexualidade — papel vivido por Marcello Mastroianni no longa de Scola —, em uma obra que aborda temas como amor, preconceito, solidão e o impacto do fascismo na vida cotidiana.

A história se passa durante uma visita de Adolf Hitler a Benito Mussolini para firmar uma aliança política, em plena ascensão do fascismo na Itália, e também é estrelada por Maria Casadevall, que dá vida a Antonietta, uma dona de casa submissa e mãe de seis filhos.

“É o filme da vida de muita gente na Itália e que fala de um momento social, socioeconômico e político importante na época do fascismo pré-guerra”, disse Gianecchini, que estava em solo italiano quando recebeu o convite para protagonizar a peça. “Na hora, eu soube que tinha que parar tudo e voltar para o Brasil”, contou o ator em entrevista à ANSA.

Na produção, Gianne entra na pele de um personagem “multidimensional e cheio de camadas”, que é perseguido e provavelmente será capturado e morto por ser homossexual, porém encontra uma mulher, também vítima do fascismo, em um dia em que está “completamente abalado”. Ambos são solitários e estão em busca de um alento e de liberdade.

“A gente precisa falar muito ainda sobre certos assuntos. E esse país [o Brasil] sempre se mostrou muito homofóbico. Nós precisamos normalizar as existências, os corpos das pessoas”, acrescentou o ator, destacando que sua “militância se dá pela arte”.

Para ele, a peça também é um alerta contra o fascismo em uma era em que discursos extremistas ganham força no mundo inteiro.

“É o momento perfeito para montar essa peça, porque a gente ainda luta com ideias fascistas. Vire e mexe vemos discursos fascistas e gente querendo voltar com essa realidade”, salientou Gianne, que também é produtor do espetáculo.

Raízes italianas 

Além de destacar temas urgentes da atualidade, a peça é uma espécie de resgate das raízes de Gianecchini, que passou recentemente uma temporada de três meses na Sicília e em Milão para tirar a cidadania e “entender o jeito italiano de ser”.

“Foi uma reconectada com meus antepassados, que eu sempre honrei. Quando você fica lá e começa a entender o dia a dia, você entende muito de onde veio. Eu comecei a estudar um pouquinho também sobre o que levou minha família a vir para o Brasil, por exemplo, e o quanto de reflexo tem a unificação da Itália e todo o êxodo por causa da vida difícil e da miséria que havia na época”, disse.

Para o astro, a imersão na cultura italiana o fez entender muito melhor a sua família e a história do país. “Isso mexeu demais comigo. E, depois, comecei a falar um pouco a língua.

Fiquei imaginando eu podendo hoje falar com meu bisavô”, afirmou Gianecchini, que ainda revelou um “profundo amor pela Itália” e por suas raízes.

“Isso me fez reconectar com uma parte minha essencial. Eu fiquei muito emocionado no dia em que eu ganhei minha cidadania.

Na verdade, desde que eu me propus a ir lá e tirar a cidadania e viver essa experiência de passar o dia a dia, eu comecei a me emocionar muito”, declarou.

O ator também destacou o contraste visto na Itália entre lugares paradisíacos e a dureza da realidade cotidiana, citando o exemplo de Nápoles, destino marcado pela “loucura, pelo caos e por muita informação visual, mas genuíno, alegre e cheio de vida”.

“É bonito de ver isso, não é só uma coisa de sonho ou de realidade. Porque senão a gente fica só nesse mundo da fantasia”, acrescentou Gianne, ressaltando que “a Itália é a magia e caos ao mesmo tempo”.  

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