Turismo na Itália

As belezas do Bernina Express, o trem vermelho dos Alpes da Itália e Suiça

O ícone trem vermelho do Bernina Express, uma joia sobre trilhos que atravessa lentamente vales e montanhas nevadas entre Itália e Suíça, completa 115 anos, confirmando seu status como uma das ferrovias mais evocativas do mundo.

A linha férrea, uma obra-prima da engenharia, parte do centro histórico renascentista de Tirano, no coração de Valtellina, extremo-norte italiano, e vai até Saint Moritz, concorrido destino de milionários no lado suíço da fronteira.

Essa é a ferrovia mais alta dos Alpes e uma das mais íngremes do mundo sem o uso de cremalheira.

Tirano, ponto de partida da rota, sempre desempenhou um papel estratégico como centro de comunicações, localizada na junção dos vales de Valtellina e Valposchiavo, emoldurada pelo maciço de Bernina ao norte, pelo Passo Stelvio a nordeste e pelos Alpes Orobie ao sul.

A partir de Tirano, o histórico trem panorâmico da Ferrovia Rética, tombada pela Unesco como patrimônio da humanidade, percorre pouco mais de 60 quilômetros em duas horas e meia, com um impressionante desnível de 1.824 metros (de 429 metros em seu ponto inicial até 2.253 na estação Ospizio Bernina, já na Suíça, local mais alto da travessia).

A ideia da ferrovia, cuja construção começou em 1906 e que foi inaugurada em 5 de julho de 1910, remonta ao final do século 19, como uma ligação tanto para o turismo quanto para o transporte de mercadorias.

Documentos da época registram 330 mil passageiros e 19 mil toneladas de carga transportados somente no ano de sua inauguração.

Sua construção foi heroica: mais de 2,5 mil trabalhadores, em sua maioria italianos, labutaram em condições climáticas extremas com pás, picaretas e dinamite para construir os 61 km da linha, que conta com uma inclinação de 7%.

Inicialmente, o trem era pintado de amarelo, mas, na segunda metade do século 20, para combinar com a identidade da Ferrovia Rética e melhorar a visibilidade em meio à paisagem coberta de neve, passou a adotar o vermelho. Nos primeiros anos, a linha operava apenas no verão, porém, a partir do inverno de 1913, começou a funcionar durante o ano todo.

Desde então, 350 mil passageiros embarcam na estação de Tirano todos os anos, prontos para uma viagem pelas paisagens alpinas cobertas de neve.

Rota

Os primeiros 15 minutos da viagem atravessam território italiano: das janelas, entre os picos, pode-se admirar o Santuário da Madonna de Tirano, com seu elegante campanário. Construído no local de uma suposta aparição mariana em 1504, este templo é considerado o exemplo mais importante da arquitetura renascentista em Valtellina.

O trem continua sua jornada por encostas cobertas de vinhedos onde cresce a variante Nebbiolo, uva conhecida localmente como “Chiavennasca” e base de vinhos renomados, como o Sforzato di Valtellina e o Valtellina Superiore DOCG.

Entre os vinhedos, construídos com a técnica tradicional de muros de pedra seca, ergue-se a pequena igreja de Santa Perpétua, um dos mais antigos locais de culto de Valtellina, datada da segunda metade do século 12. Sua localização estratégica ao longo da estrada para o Passo de Bernina fez dela um ponto de parada natural para viajantes e peregrinos durante séculos, que encontravam abrigo no “xenodochio”, a antiga hospedaria, cujos vestígios permanecem até hoje.

O trem continua a subir em meio ao silêncio dos bosques de castanheiros, carregados de cores vibrantes. A última parada antes da fronteira suíça é um lugar suspenso entre história e mistério: a região de Piattamala. Ali, entre as grutas de pedra, encontra-se um sítio arqueológico onde foram descobertos dois punhais decorados da Idade do Bronze e um grande edifício da década de 1920 que servia como usina hidrelétrica.

Após cruzar a fronteira, o trem segue em direção ao famoso viaduto em espiral de Brusio, adentrando o coração dos Alpes e acompanhando os viajantes até St. Moritz, em uma jornada que é, ao mesmo tempo, natural, histórica e cultural.

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