Notícias

Chancelaria de Roma recorda desaparecidos na Argentina durante a última ditadura militar

"A crueldade" das histórias dos desaparecidos na Argentina durante a última ditadura militar (1976-1983) "aumenta em nós o desejo de justiça", disse em Roma o ministro italiano das Relações Exteriores, Giulio Terzi, em uma cerimônia na sede da Chancelaria.

"Certamente não em busca de vingança, mas para restaurar a verdade", destacou o ministro no evento, lembrando que "as atrocidades (da ditadura civil-militar) foram monstruosas".

O ministro ainda destacou que "enquanto muitos ao redor do mundo silenciavam ou minimizavam, 30 mil civis, incluindo pelo menos 1.600 cidadãos italianos, eram torturados, assassinados, às vezes lançados vivos de aviões no oceano para que desaparecessem".

Terzi também evocou a decisão tomada há alguns anos pelo governo de seu país de se apresentar como parte querelante em julgamentos realizados em Roma "contra militares argentinos". Ele acrescentou que em 2011 foi assinado um acordo "importante" com a Argentina para enviar às autoridades de Buenos Aires "cópia da documentação existente nos arquivos diplomático-consulares italianos na Argentina e referentes a cidadãos italianos ou de origem italiana vítimas do regime militar argentino".

Para facilitar essa tarefa, se instituiu uma Comissão técnica ítalo-argentina, explicou Terzi.

Da cerimônia também participaram, entre outros, Carlos Cherniak, ministro da Embaixada Argentina em Roma, e Tati Almeida, mãe dePlaza de Mayo.

Enquanto Almeida se referiu à luta das mães da Argentina, Cherniak destacou "a importância da memória como o único remédio possível para evitar a repetição da história" e contextualizou a situação em seu país nos anos 60 e 70 do século passado.

"Poderia afirmar-se que nenhuma democracia teria sucesso na América Latina sem o apoio dos EUA, e nenhuma ditadura militar era possível sem o consentimento do país", enfatizou. 

"A democracia não se perde em um único dia, mas se perde um pouco a cada dia", comentou. A tragédia (30 mil desaparecidos, 500 crianças roubadas pelos repressores, milhares de torturados e um milhão e meio de exilados) foi obra de "personagens locais e internacionais", disse ele, citando "uma rede global onde a organização internacional mafiosa Propaganda 2 (P2) foi o ator mais importante" do italiano Licio Gelli.

Finalmente pediu um apoio concreto para uma "campanha em toda a Itália para encontrar netos que as Abuelas de Plaza de Mayo procuram", pois alguns deles "poderiam estar na Itália". 

Ambientes argentinos e italianos que durante a década de 70 lutaram pela volta da democracia na Argentina e por Verdade e Justiça para os desaparecidos, lamentaram duas ausências muito significativas na mesa dos oradores.

Recordaram principalmente o ex-cônsul em Buenos Aires, Enrico Calamai (que "apesar da incompreensão de seu superiores" na época salvou jovens perseguidos pela ditadura, como relatado em seu livroArgentina, niente asilo político); e Angela "Lita" Boitano, mãe de dois desaparecidos e motor da luta dos Familiares Italianos e dos julgamentos citados por Terzi.

Mostrar mais

Artigos relacionados

Fechar

Adblock detectado

Por favor, considere apoiar-nos, desativando o seu bloqueador de anúncios