
Uma comissão instituída pelo finado Papa Francisco excluiu a possibilidade de ordenar mulheres como diaconisas, proposta que é defendida pela ala mais progressista da Igreja Católica para combater a escassez de padres e diáconos em muitas partes do mundo.
A conclusão está em uma carta escrita pelo presidente do comitê, cardeal Giuseppe Petrocchi, e enviada ao papa Leão XIV, que a tornou pública, em um sinal de apoio tácito aos resultados.
O texto “exclui a possibilidade de prosseguir no sentido de admitir mulheres no diaconato, entendido como um grau do sacramento da Ordem”, formulação que foi aprovada por sete membros da comissão e rejeitada por apenas um, em votação realizada em julho de 2022.
O diaconato é o primeiro grau do Sacramento da Ordem da Igreja Católica, que também inclui o presbiterado (padres) e o episcopado (bispos). Um diácono pode batizar, celebrar casamentos e fazer pregações, além de colaborar com bispos e sacerdotes na liturgia da palavra e administrar paróquias, porém não está apto a consagrar a hóstia, ungir enfermos, celebrar missas ou ouvir confissões.
A ala mais progressista do catolicismo defende a ordenação de diaconisas, de forma a dar mais relevância às mulheres em uma Igreja dominada por homens e combater a queda constante do interesse pela vocação religiosa. Diaconisas existiam no cristianismo primitivo, mas seu papel naqueles tempos ainda é motivo de debate.
“A Igreja reconheceu o título de diaconisa em variadas épocas, tempos e formas para as mulheres, mas atribuiu-lhe um significado não unívoco. No atual estado da pesquisa histórica e do nosso conhecimento dos testemunhos bíblicos, pode-se razoavelmente dizer que o diaconato feminino não era entendido como o simples equivalente feminino do diaconato masculino e não parece ter tido um caráter sacramental”, explica a carta do cardeal Petrocchi.
Segundo ele, uma votação no âmbito da comissão em setembro de 2021 teve placar de seis votos a dois, além de duas abstenções, contra a “instituição na Igreja do diaconato feminino como grau da Ordem do Sacramento”.
Por outro lado, os membros aprovaram por unanimidade uma formulação que estabelece que a eventual criação de novos ministérios, porém fora da Ordem do Sacramento, “poderia contribuir à sinergia entre homens e mulheres”.
A carta também destaca que foi apresentado ao Sínodo um material “abundante” em defesa do diaconato feminino, porém assegura que essa vasta documentação é atribuída a um grupo restrito de pessoas provenientes de “poucos países” e “não pode ser considerada como a voz do povo de Deus em seu conjunto”.
Além disso, destaca a “forte oposição” de algumas igrejas à perspectiva de ordenar mulheres diaconisas e que parte do clero define essa hipótese como “inaceitável”.
“Chama atenção também que, se a admissão de mulheres ao primeiro grau da Ordem fosse aprovada, a sua exclusão dos restantes graus [presbiterado e episcopado] seria inexplicável”, ressalta Petrocchi, que, tendo em vista a “falta de uma convergência sobre o tema”, recomenda uma postura “prudente” por parte da Santa Sé.



