
A Itália vive a expectativa de ter sua culinária tombada como patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Unesco, decisão aguardada para o próximo mês de dezembro e que, além de reconhecer a “dimensão sagrada” da gastronomia no “Belpaese”, pode servir de inspiração para outras nações do mundo buscarem o mesmo título.
A candidatura foi formalizada em 2023 e não diz respeito a receitas ou preparos específicos, mas sim a um conjunto de práticas sociais e rituais baseadas na percepção tipicamente italiana de que cozinhar é também um modo de cuidar de quem se ama.
“Mas esse é um desafio que vai muito além da Itália, que pode servir de pioneira”, disse à agência Ansa o professor Pier Luigi Petrillo, diretor da cátedra Unesco na Universidade de Roma Unitelma Sapienza e que ajudou a preparar o dossiê da candidatura da cozinha italiana.
O especialista participou de um debate no Instituto Italiano de Cultura de São Paulo para promover a campanha, ao lado de Maddalena Fossati, diretora da revista La Cucina Italiana e presidente do comitê promotor da candidatura, uma ideia lançada em julho de 2020, em plena pandemia de Covid-19 e em meio à redescoberta da paixão por cozinhar em casa.
O evento no IIC também marcou a inauguração da mostra “La Cucina Italiana”, que reúne painéis fotográficos destacando pratos típicos de cada região do país, no âmbito da Settimana della Cucina Regionale Italiana.
“O objetivo [na Unesco] é afirmar que as culinárias são expressões culturais. Nós somos os primeiros, mas é claro que, se a cozinha italiana for reconhecida, se abriria uma nova perspectiva para o patrimônio cultural”, acrescentou Petrillo.
De fato, a Unesco nunca tombou uma culinária nacional em sua totalidade como patrimônio imaterial da humanidade, apenas elementos específicos, como a arte dos pizzaiolos napolitanos ou o preparo do kimchi coreano.
“Reconhecer a cozinha italiana significa demonstrar que a cultura e a comida são duas faces da mesma moeda. Em todos os povos, em todas as nações, o ato de comer reflete a cultura daquele lugar. Há povos em que a comida tem um papel secundário, mas há povos em que ele tem uma dimensão sagrada, como na Itália”, salientou Petrillo.
Para o professor, o que torna a culinária italiana única é o fato de ela ser um “mosaico” da diversidade de cozinhas que povoam o país de norte a sul. Uma espécie de esponja que, ao longo de séculos, absorveu influências de outras culturas, como a árabe, alemã, espanhola ou francesa, além das receitas levadas pelos imigrantes italianos a países como Brasil e Argentina, onde ganharam caras novas a partir da mistura com as tradições locais.
E, para Petrillo, “pouco importa” que muitos pratos popularizados no exterior tenham se distanciado dos originais. “Isso também é cozinha italiana, mesmo que as receitas não sejam as mesmas. O que faz a cozinha italiana é o gênio criativo”, disse.
O professor, que presidiu por quatro anos o comitê de especialistas responsável pelos pareceres técnicos sobre as candidaturas na Unesco, garantiu estar “muito, muito otimista” a respeito da decisão final, que será anunciada durante uma reunião em Nova Délhi, na Índia, entre 8 e 13 de dezembro.
“Acredito que o dossiê que elaboramos esteja perfeitamente em linha com o que a Unesco pede, então estou otimista que conseguiremos levar o resultado para casa. A Itália não é uma potência econômica nem uma potência militar, mas tem a ambição de ser uma potência cultural”, declarou.



