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CRISE POLÍTICA ITALIANA: Coalizão desmorona e deixa governo da Itália por um fio

O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, recusou-se a renunciar, apesar da rebelião partidária que deixou sua coalizão por um fio em meio a uma crescente crise econômica. Há a convicção generalizada de que Berlusconi perdeu a maioria parlamentar, mas ele não reconhece isso. "Temos uma maioria que eu continuo acreditando que seja sólida e vamos continuar governando", disse ele a jornalistas durante a cúpula do G20 na França.

O bilionário político, de 75 anos, qualifica de traidores os deputados do seu partido, o PDL, que romperam com a coalizão, mas diz que vai conversar para atraí-los de volta.

Nesta semana, dois deputados do conservador PDL desertaram para o centrista UDC, reduzindo a bancada pró-Berlusconi para prováveis 315 parlamentares, um a menos que a maioria absoluta.

No mês passado, Berlusconi foi submetido a um voto de confiança e conseguiu o apoio da maior parte do Parlamento a uma moção de confiança ao seu governo. Caso saísse derrotado na ocasião, o premiê teria de renunciar ao cargo.

A vitória de Berlusconi, porém, foi apertada: 316 parlamentares votaram a favor da moção de confiança, enquanto 301 votaram contra. O fato do premiê não ter conseguido o apoio de uma maioria sólida indica que ele terá dificuldades para aprovar leis em meio à crise econômica que atinge a Itália.

Refletindo a incerteza, o ágio pago sobre os títulos italianos com vencimento em dez anos chegou nesta sexta-feira a 6,43 %, maior valor na era do euro, e próximo dos níveis que levaram aos resgates financeiros para a Irlanda e Portugal.

O presidente italiano, Giorgio Napolitano, se juntou às vozes que, com alarme, pedem um consenso entre os políticos para a aprovação de reformas econômicas. Segundo ele, a Itália está sofrendo uma grave crise de confiança internacional.

Durante a cúpula do G20, Berlusconi aceitou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) monitorasse as reformas na Itália, mas rejeitou verbas do fundo. Tudo isso, no entanto, pode em breve se tornar irrelevante, caso o primeiro-ministro não consiga sobreviver politicamente à rebelião.

A crise foi exposta na reunião de Cannes, onde o ministro da Economia, Giulio Tremonti, com quem há muito tempo Berlusconi tem relações gélidas, se recusou a revelar sua opinião sobre a conveniência de o premiê permanecer no cargo.

No entanto, depois, Tremonti amenizou e veio a público nesta sexta para negar que tenha acusado o premiê de ser um problema para os investidores que questionam a solvência financeira da Itália.

Em um comunicado de imprensa, o Ministério da Economia respondeu às declarações publicadas em alguns meios de comunicação internacionais sobre uma suposta frase que Tremonti teria dito a Berlusconi durante a cúpula do G20. "Alguns sites internacionais divulgaram uma frase que o ministro Giulio Tremonti supostamente teria dirigido ao chefe do governo, Silvio Berlusconi", afirmou o breve comunicado.

"Trata-se de uma citação publicada na imprensa italiana no dia anterior, totalmente ausente de fundamento e, portanto, falsa", concluiu a nota.

Diante da crise da dívida na Grécia, a Itália é vista como a próxima peça do dominó a cair, e há cada vez mais apelos pela formação de um novo governo que promova reformas e recupere a confiança internacional. 

Berlusconi diz que a única alternativa a ele é a realização de eleições antecipadas no primeiro semestre de 2012, em vez da nomeação de um tecnocrata ou de um governo de unidade nacional, como querem muitos políticos e analistas.

Pelo menos sete deputados governistas defenderam a formação de um novo gabinete, e podem votar contra Berlusconi em um eventual novo voto de confiança.

"A maioria (governista) parece estar se dissolvendo como um boneco de neve na primavera", disse o respeitado analista Stefano Folli no jornal econômico Il Sole 24 Ore. Outros comentaristas citaram uma revolta "inexorável" contra o premiê.

Até o vice-ministro da Defesa, Guido Crosetto, leal a Berlusconi, disse na TV: "Não sei quantos dias ou semanas restam para o governo. Certamente uma maioria que dependa de alguns poucos votos não consegue continuar por muito tempo."

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