Notícias

ERIKA BARRETO FONSECA: Projeto da Cáritas ajuda a colocar refugiados no mercado de trabalho

Um dos maiores desafios de um país em relação aos refugiados que recebe é inseri-los na sociedade. E para que essa integração aconteça, existe um aspecto fundamental: emprego. Por conta disso, desde novembro de 2011 uma iniciativa criada em São Paulo vem ajudando pessoas que vieram ao Brasil para fugir de perseguições em suas nações de origem a conquistar um espaço no mercado de trabalho.

Chamado Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (Parr), o projeto é fruto da mente de João Marques Fonseca, sócio-diretor da Emdoc, firma de consultoria na área de imigração. "Eu percebi que essas pessoas tinham dificuldades para arrumar empregos, então pensei que poderia ser uma chance de fazer algo em prol dos refugiados. É uma maneira de mostrar que existe uma mão de obra disponível, de qualidade e comprometida", conta ele.

Até o momento, o site do Parr (www.refugiadosnobrasil.com.br) conta com 47 companhias e 239 currículos cadastrados. Ao todo, já foram 28 contratações, mas a iniciativa está começando a deslanchar somente agora. Para acontecer a primeira recolocação foram necessários oito meses. Em 2012, só dois refugiados conquistaram uma vaga, porém este ano o número já subiu para 26.

"O que temos percebido é que está começando a cair um pouco o preconceito. Para o empresário, refugiado era a mesma coisa que foragido, bandido. Mas isso está mudando", diz Fonseca. Quem faz a seleção das pessoas que podem inscrever seu currículo no programa é a Cáritas, entidade ligada à Igreja Católica. Lá as assistentes sociais apontam aqueles que já estão prontos, ou seja, com um conhecimento básico de português, preparados psicologicamente e com a documentação regularizada.

"Antes do Parr nós já tínhamos contato com agências de emprego, empresas, mas é um trabalho muito difícil. O Parr entrou para facilitar o processo, ajudando a sensibilizar as companhias", explica Adelaide Guabiraba, assistente social da organização. Dos mais de 200 imigrantes inscritos no projeto, em torno de 25% são da República Democrática do Congo (RDC) e 15% da Nigéria. O restante é formado por nativos de diversos outros países, predominando as nacionalidades africanas.

Desse grupo já fez parte o congolês Andre B., que desde abril está trabalhando na controladoria financeira de uma empresa. Mas antes disso ele teve que deixar mulher e filhos em Kinshasa, capital da RDC, para escapar de um mandato de prisão por ter organizado e participado de uma marcha contra o governo do presidente Joseph Kabila, no poder desde 2001.

"É muito difícil quando você tem uma vida e, subitamente, tudo muda. Aqui não é fácil se você não fala português, mas na minha área você conversa com cifras, números", afirma Andre, que antes de ser contratado passou por quatro entrevistas e provas escritas em português e inglês. Há um ano em São Paulo, o congolês já está se acostumando com o modo de vida brasileiro e adaptado ao novo trabalho.

Mas mesmo assim ele mantém as esperanças de retornar ao Congo. Se a situação política no seu país sofresse uma reviravolta, ele não pensaria duas vezes antes de embarcar para a sua terra natal. No entanto, já existe uma movimentação de aliados de Kabila para que o presidente altere a constituição e tenha direito a um novo mandato. "Se mudarmos a constituição, vai ser muito difícil voltar. Mas eu estou otimista", acrescenta.

As companhias interessadas em cadastrar vagas no Parr devem acessar o site do programa e informar todos os seus dados e necessidades. Após isso, as informações serão passadas para o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), que vai aprovar ou não a empresa, seguindo alguns critérios, como não ter histórico de trabalho escravo e não ser dos setores de bebidas, cigarros e armamentos.

Aliás, o órgão acompanha de perto todos os passos da iniciativa. "Não é fácil para o refugiado ter emprego, sobretudo por conta das diferenças culturais. E o projeto mostra que eles são pessoas como qualquer outra, qualificados e com vontade de trabalhar", salienta Andrés Ramirez, representante do Acnur no Brasil.

Por enquanto, o Parr é restrito ao estado de São Paulo, mas já existem planos de expansão para Brasília e Rio de Janeiro. "Somos uma empresa com escritórios em 12 estados, e nosso objetivo é que no futuro possamos atuar em cada um deles. Mas decidimos nos solidificar primeiro em São Paulo", finaliza Fonseca.

Mostrar mais

Artigos relacionados

Fechar

Adblock detectado

Por favor, considere apoiar-nos, desativando o seu bloqueador de anúncios