Passados três dias de uma votação que foi um choque, os principais líderes da Itália começam a se reposicionar no tabuleiro complicado da política nacional, com a certeza de que, pelo menos por enquanto, é impossível encontrar uma maioria parlamentar.
O país está em um beco que, por hora, não tem saída, razão pela qual todos tentam ganhar tempo, à espera de que o abalo eleitoral decante e os cenários comecem a ficar menos confusos.
A situação é crítica, como evidenciado pela queda da Bolsa de Valores de Milão e os sinais de instabilidade vindos dos mercados internacionais.
Em Roma e outras capitais europeias há temores de que o furacãoBeppe Grillo, e não só, possa se transformar no pontapé inicial de uma crise financeira regional.
O voto italiano deixou claro que a política tradicional já não consegue conter o impacto de uma crise econômica longa e devastadora, que empobreceu a classe média nacional e aumentou os bolsões de pobreza, especialmente no sul da Península.
O ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi foi o primeiro a falar ontem (26), em uma entrevista radial, na qual não descartou a possibilidade de uma "governissimo" (grande aliança) entre sua coalizão de centro-direita, e a centro-esquerda de Pier Luigi Bersani. A situação é tão complicada que o ex-premier conteve sua impetuosidade habitual e pediu tempo "para refletir".
Depois que os dados eleitorais se tornaram rapidamente em um balde de água fria para a centro-esquerda, Bersani não conseguiu esconder seu cansaço. Para o secretário do Partido Democrata (PD), apesar da vitória por sua coalizão ter sido a mais votada, politicamente foi uma derrota. Nem remotamente ele consegue pensar em montar um governo.
Depois de ontem (26) frisar que não renunciará ("Eu não abandono o navio", disse ele), o líder da centro-esquerda italiana excluiu categoricamente a possibilidade de um pacto com Berlusconi. No entanto, deixou a porta aberta para dialogar com Grillo, ao propor que o Parlamento vote algumas reformas em áreas altamente sensíveis, tais como a redução do número de parlamentares e de seus salários, regras que aumentem os empregos e o apoio a programas sociais de combate à crise.
Suas palavras confirmaram que todos os olhares apontam para Grillo, até porque um dos líderes "grillini" deve ser o próximo presidente da Câmara dos Deputados, o terceiro maior cargo institucional do país.
Com um quarto do eleitorado (cerca de 10 milhões de votos) no bolso, o comediante genovês está, em outras palavras, ditando o ritmo da política nacional.
Grillo e o seu Movimento Cinco Estrelas tem um programa radical que dificilmente será palatável para uma força como o PD de Bersani. O comediante esclareceu que não quer fazer alianças com ninguém, mas avisou que "não está contra o mundo" e que estaria disposto a avaliar a adoção de algumas questões, "reforma por reforma, lei por lei". Algo, no fundo, que não diverge muito do discurso de Bersani.