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Itália recorda vítimas de massacres da antiga Iugoslávia

A Itália celebrou o “Dia da Memória”, que recordaou o Massacre das Foibe, um dos episódios mais trágicos relacionados à participação do país na Segunda Guerra Mundial.

Em evento no Palácio do Quirinale em Roma, o presidente italiano, Sergio Mattarella, denunciou o “muro de silêncio e esquecimento” que se formou em torno da tragédia que deixou entre 5 mil e 17 mil italianos mortos.

O triste marco na história da nação europeia aconteceu em 1947, dois anos após o fim da 2ª GM. Neste período, a ex-Iugoslávia queria anexar a região italiana do Friuli-Venezia Giulia, no extremo nordeste do país, e todos aqueles que se opunham a isso eram assassinados pelo Exército do marechal Josip Broz Tito, o então premiê da nação eslava.

Inicialmente, as vítimas eram fascistas e anti-comunistas, no entanto, não demorou muito para que civis comuns italianos também fossem executados.

“Um muro de silêncio e esquecimento – uma mistura de embaraço, oportunismo político e, por vezes, grave superficialidade – formou-se em torno do terrível sofrimento de milhares de italianos, massacrados em foibe ou engolidos em campos de concentração, levados em massa a abandonar as suas casas, as suas posses, suas memórias, suas esperanças, as terras onde viveram, diante da ameaça de prisão ou mesmo de eliminação física”, recordou Mattarella.

Além das mortes, milhares de pessoas que não se adaptavam ao novo regime, principalmente de Trieste, da Dalmácia e da Ístria, as últimas duas atualmente na Croácia, foram deportadas pelas Forças Armadas de Tito, o que durou até a década de 1960.

A tragédia foi por muitos anos esquecida e ignorada e por muitos continua a se tratar de uma história fantasiosa e que não aconteceu. No entanto, a partir de 2004 foi criado o Dia da Lembrança, quando as vítimas do massacre são lembradas por todo o país.

“Naquelas martirizadas, mas vivas terras fronteiriças, que durante séculos acolheram povos, línguas e culturas, alternando períodos fecundos de convivência com momentos de conflitos e confrontos, o último século reservou o destino trágico e peculiar de estarmos lado a lado, apenas a poucos quilômetros um do outro, em uma geografia sombria de horror, dois símbolos da catástrofe do totalitarismo, do racismo e do fanatismo ideológico e nacionalista”, continuou o líder italiano.

O chefe de Estado disse ainda que as foibe e o êxodo representaram um “trauma doloroso” para a nascente República Italiana, “em relação ao pesado legado de um país que foi derrotado na guerra”.

“Esses acontecimentos constituem uma tragédia que não pode ser esquecida”, insistiu Mattarella, enfatizando que “páginas trágicas e duras da história não podem ser apagadas”.

De acordo com ele, “as tentativas de esquecimento, negação ou subestimação são uma afronta às vítimas e às suas famílias e causam danos inestimáveis à consciência coletiva de um povo e de uma nação”.

Já o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, reforçou que “a dolorosa história” foi um verdadeiro ato de limpeza étnica. “O pior nacionalismo e a ideologia totalitária fundiram-se para cavar um sulco sangrento entre as populações da margem oriental do Adriático”, afirmou.

Segundo o chanceler italiano, “pode-se dizer que anteciparam outras tragédias, que meio século mais tarde acompanhariam a dissolução da antiga Iugoslávia”. “Mas naturalmente este é o drama que mais nos preocupa, que nos afeta mais dolorosamente”.

“Recordar é um dever moral, civil e político, mas não significa de forma alguma reabrir conflitos antigos. Os responsáveis por esses massacres são pessoas singulares há muito desaparecidas, integrantes de uma força armada, a expressão de um Estado agora dissolvido e foram inspirados por uma ideologia derrotada pela história”, concluiu, ressaltando que os “Estados que tomaram o lugar da antiga Iugoslávia não têm qualquer responsabilidade pela violência daquela época”.

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