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JORNAL FRANCÊS LE MONDE: Já fragilizada, Itália é prejudicada pelo declínio político de Berlusconi

Silvio Berlusconi permaneceu em silêncio, enfurnado em sua mansão na Sardenha, depois que seu grupo Fininvest foi condenado, a pagar 560 milhões de euros de indenização ao empresário Carlo De Benedetti, de quem ele havia tomado em 1991 o controle da maior editora da Itália, a Mondadori, corrompendo advogados e um juiz.

O presidente do Conselho italiano também cancelou sua viagem a Lampedusa e seu discurso em vídeo diante dos membros de seu partido, o Povo da Liberdade (PDL, direita). “Suas reações poderiam ter repercussões em nível econômico”, declarou o porta-voz do governo. Não há forma melhor de sintetizar a situação da Itália, onde agora as incertezas políticas e financeiras se misturam.

Ao condená-lo, a corte de apelação de Milão infligiu uma nova derrota ao chefe do governo após seus reveses políticos nas eleições municipais de maio e dos referendos de junho. Embora tenham reduzido a penalidade financeira, estabelecida em primeira instância em 750 milhões de euros, os magistrados claramente designaram Berlusconi como o “corresponsável” por um ato de corrupção pelo qual um juiz, Vittorio Metta, e um advogado, Cesare Previti, já foram condenados a penas de prisão em 2007.

Esse julgamento é menos um duro golpe financeiro – o Fininvest, holding de Berlusconi, possui 700 milhões de euros em ativos em seu caixa – do que um golpe simbólico. A tomada da Mondadori, associada ao nascimento das televisões privadas do “Cavaliere”, foi o preâmbulo de sua entrada na política e arma absoluta de suas primeiras vitórias políticas. O julgamento de Milão, vinte anos mais tarde, é o sinal do declínio de Berlusconi, acusado em três outros processos por fraude, corrupção, abuso de poder e incitação de menor à prostituição.

Cada vez mais isolado

A fim de contornar a condenação contra a qual ele deverá recorrer, Berlusconi tentou de tudo. Durante a apresentação do orçamento de rigor (47 bilhões de economia), ele tentou a aprovação de um projeto de modificação do código civil prevendo a suspensão das sanções superiores a 20 milhões de euros em apelação até a decisão definitiva na suprema corte.

Os protestos da oposição e a desaprovação da presidência da República obrigaram o presidente do Conselho a recuar. Pior: ele encontrou somente um ministro para defendê-lo. A Liga Norte, seu principal aliado, cujo eleitorado não aprecia muito os escândalos judiciários e privados de Berlusconi, permaneceu em total silêncio. Já o ministro da Economia, Giulio Tremonti, cancelou uma coletiva de imprensa para não ter de endossar essa medida.

É esse momento de crise latente que os especuladores escolheram para fazer pressão sobre a Itália, apesar das declarações tranquilizadoras de Mario Draghi, governador do Banco Central da Itália e futuro diretor do Banco Central Europeu. Na sexta-feira, a Bolsa de Milão fechou com uma baixa de 3,47%, prejudicada por uma queda nos valores bancários. O UniCredit, principal banco do país, teve uma queda de 7,85%, o Banco Popolare de 6,46% e o Intesa Sanpaolo de 4,56%. Na segunda-feira, Milão ainda perdia 1,26% na abertura. Paralelamente, as taxas de dez anos permaneciam em um nível recorde.

Afundada em uma enorme dívida (1,80 trilhão de euros, ou seja, 120% do PIB), a Itália foi colocada sob observação pelas agências Moody’s e Standard & Poor’s, que ameaçam rebaixar sua nota. Em seus comentários, elas ressaltam a falta de reformas estruturais, o fraco crescimento (+0,1% no primeiro trimestre de 2011) e “as incertezas políticas” que pesam sobre o país.

Diante desse cenário, Berlusconi anunciou, na sexta-feira, sua intenção de se retirar da vida política e de apoiar em 2013 o atual ministro da Justiça, Angelino Alfano, que ele quer tornar seu sucessor e que foi nomeado líder do PDL. “Se eu pudesse, deixaria o governo agora”, disse. Blefe ou real esgotamento? – Jornal Le Monde

Tradução: Lana Lim

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