
Ao escolher Laura Mattarella como capa da edição de janeiro de 2026, a Vogue Itália ilumina uma figura que raramente busca os holofotes, mas cuja presença se tornou essencial no coração da República Italiana. Filha do presidente Sergio Mattarella, Laura ocupa um lugar singular: não o do protagonismo político, mas o de uma presença constante, silenciosa e profundamente institucional ao lado do chefe de Estado. Além de primogênita, ela é a “primeira-dama” da Itália, papel cerimonial que assumiu no intuito de preencher o vazio deixado pela morte de sua mãe.
A entrevista, realizada no Palácio do Quirinale (residência oficial do presidente da Itália), revela muito mais do que uma imagem de estilo ou elegância. Revela uma mulher consciente do peso da história que carrega e da delicadeza do papel que assumiu. “Tenho que estar perto dele: às vezes ao seu lado, às vezes um passo atrás. Outras formas de expressão não são esperadas à frente da República Italiana”, afirma, em uma frase que sintetiza sua postura pública.
Laura Mattarella deixou a carreira de advogada para acompanhar o pai após sua eleição à Presidência, assumindo um papel que tradicionalmente caberia à primeira-dama – função inexistente no sistema republicano italiano. Sua atuação, no entanto, nunca se confundiu com protagonismo. Pelo contrário: é marcada pela discrição, pela medida e pelo respeito absoluto à separação entre esfera pública e privada.
Essa postura não é improvisada. Vem de uma história familiar profundamente ligada às instituições italianas. O avô Bernardo Mattarella, o tio Piersanti (presidente da Região da Sicília assassinado em 1980) e o próprio Sergio Mattarella moldaram uma tradição de serviço público atravessada por valores como sobriedade, responsabilidade e ética. Dentro desse contexto, Laura representa a continuidade de uma cultura cívica em que o apoio feminino nunca foi passivo, mas consciente.
Na conversa com a Vogue, ela destaca a educação recebida pelas mulheres de sua família: pensar por conta própria, cultivar ideias próprias e, ao mesmo tempo, sustentar um compromisso social ativo. É essa formação que explica sua capacidade de inspirar confiança sem jamais ultrapassar os limites do papel institucional que escolheu exercer.
O encontro descrito pela revista – da Sala della Musica à Sala di Druso, com vista para Roma ao pôr do sol – reforça a dimensão simbólica dessa presença. Laura Mattarella conhece profundamente o Quirinal, mas ainda se permite descobrir seus recantos, como quem aceita o cargo com respeito renovado todos os dias. Seus gestos são naturais, sua relação com a câmera é espontânea, quase surpreendida. Nada soa encenado.
Ao final, quando ela atravessa a Manica Lunga para reencontrar o pai e acompanhá-lo a um compromisso oficial, a cena sintetiza seu papel: caminhar ao lado, nunca à frente, sustentando com gentileza e firmeza a liturgia republicana. Em tempos de polarização e ruído, sua figura transmite uma mensagem rara, aquela na qual a autoridade também pode ser exercida por meio da discrição.



