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LUTO NA POLÍTICA ITALIANA: Francesco Cossiga; um político brilhante e imprevisível

Com a morte, aos 82 anos, do ex-presidente da República Francesco Cossiga, a classe política italiana perde um de seus representantes mais brilhantes, e também um dos mais imprevisíveis, que leva consigo alguns mistérios dos "anos de chumbo".

Foi apenas no final de uma carreira política muito ortodoxa na Democracia Cristã (DC) que Cossiga ganhou seu apelido "Picconatore", aquele que vai fundo em suas críticas ao poder, incluindo o seu próprio partido.

Nascido no dia 26 de julho de 1928 em Sassari, noroeste da Sardenha, Francesco Cossiga entrou para a Democracia Cristã aos 17 anos. Advogado, doutor em Direito Constitucional, de inteligência e ironia mordazes, Cossiga teve uma carreira política irrepreensível.

Ele se tornou deputado pelo DC aos 30 anos, foi várias vezes secretário de Estado de Defesa e, depois, ministro do Interior, em 1978. Renunciou ao cargo no dia seguinte ao assassinato do líder da DC, Aldo Moro, sequestrado e morto em 9 de maio de 1978 pelas Brigadas Vermelhas. Durante os 55 dias em que Moro ficou nas mãos dos terroristas, Cossiga foi criticado em diversas oportunidades por sua gestão do caso.

A opinião pública estava convencida de que ele conhecia a maior parte dos segredos e dos documentos confidenciais dos "anos de chumbo" do terrorismo na Itália.

Chefe do Governo por um breve período em 1979, ele foi eleito presidente da República em 1985, para um mandato de sete anos. Depois de cinco anos exercendo atividades essencialmente protocolares, Cossiga denunciou as falcatruas, criticando o sistema partidário e defendendo um regime presidencial e reformas institucionais.

Multiplicando as declarações polêmicas, ele abordava diversos assuntos, atacando até o seu próprio partido, a DC, quando em 1990 Giulio Andreotti, então chefe do Governo, revelou a existência da rede "Gladio", grupo militar paralelo contra o Comunismo, que Cossiga contribuiu para fundar durante a Guerra Fria.

Famoso pelas declarações intempestivas, Cossiga se descrevia "como um gato selvagem com quem é melhor não mexer".

A imprensa da época questionava inclusive a sua sanidade mental.

Ele renunciou em abril de 1992, três meses antes do final de seu mandato, para dar lugar a "um presidente forte".

Durante o período confuso de decadência dos partidos tradicionais provocado pela operação "Mãos Limpas", Cossiga, senador vitalício, alternou momentos de ausência e declarações de impacto.

Em um aparente paradoxo, Cossiga, anticomunista ferrenho, favoreceu o nascimento do primeiro governo europeu dirigido por um ex-comunista, Massimo D'Alema, em outubro de 1998. Um ano depois, ele retirou o seu apoio ao governo.

Nesta década, manteve-se mais reservado, dando poucas entrevistas e participando pouco dos mandatos de seu amigo de centro-direita Silvio Berlusconi.

Ele se separou em 1993 de sua esposa Giuseppa Sigurani, com quem teve um filho e uma filha. Eles se divorciaram no civil em 1998 e seu casamento foi anulado pelo Vaticano, em outubro de 2007.

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