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Marcado por corrupção e escândalos sexuais, Berlusconi caiu pela economia

O magnata das comunicações Silvio Berlusconi, 75 anos, dominou a vida política da Itália desde 1994, quando foi eleito premiê pela primeira vez. As polêmicas que envolveram seu nome, como os escândalos sexuais e os casos de corrupção, foram pouco a pouco ruindo sua imagem de líder, mas não foram suficientes para tirá-lo do poder.

Foi a pressão da União Europeia e a desastrosa administração da crise econômica no país os principais fatores para a renúncia neste último sábado de Berlusconi, que deixa o cargo com uma popularidade de 22% – a menor da história.

Nascido em 29 de setembro de 1936, Berlusconi vem de uma família pequeno-burguesa de Milão e demonstrou vocação para os negócios desde a adolescência, quando estudava no colégio dos Salesianos.

Sempre contou com um grupo de amigos íntimos, como Fedele Confalonieri, a quem confiaria, mais tarde, as rédeas da Mediaset, a poderosa empresa de televisão de seu império industrial Fininvest, que compreende 500 sociedades, entre elas a Editora Mondadori.

Vendedor de aspiradores de pó nos anos 1950, Berlusconi formou-se em Direito em 1961, dedicando-se ao setor de construção e dando início a uma carreira ímpar.

Condecorado como “Cavaleiro do Trabalho” aos 41 anos, “Il Cavaliere” Berlusconi irrompeu na política em 1993, depois que os casos de corrupção “Tangentopoli”, ou “Mãos Limpas”, derrubaram uma classe política inteira.

Em poucas semanas, criou um partido, o Forza Italia, composto em grande parte por executivos da Fininvest que pouco sabiam de política. Aliou-se aos neofascistas do Movimento Social Italiano, transformado na Aliança Nacional liderada por Gianfranco Fini, e à controvertida Liga Norte de Umberto Bossi. Em 28 de março de 1994, tornou-se premiê.

Em novembro daquele ano, Berlusconi colocou à venda três canais de televisão depois de ter sido notificado por promotores de que a Fininvest estava sob investigação por suspeitas de suborno e sonegação de impostos. Um mês depois, abandonado por Bossi e pelos aliados da Liga, o visceral anticomunista foi pressionado a renunciar. Enfraquecido, perdeu as eleições parlamentares em 1996 para a coalizão de centro-esquerda liderada por Romano Prodi.

Hábil na arte de apresentar-se como “vítima”, sempre investigado pela Justiça por denúncias de corrupção, Berlusconi foi construindo com paciência a imagem de um “líder trabalhador”, com a qual venceu as eleições de 2001, apoiado pela mesma coalizão que, em 1994, o levou ao poder e que foi rebatizada como A Casa das Liberdades. Seus maiores compromissos eram reduzir os impostos, criar empregos e melhorar a infraestrutura do país.

Apesar das críticas e controvérsias despertadas por seu mandato entre 2001 e 2006 e das divisões internas dentro da própria coalizão – que quase se desintegrou –, Berlusconi tornou-se o líder máximo da direita italiana.

Berlusconi também é conhecido por suas frases polêmicas, indelicadas e até constrangedoras. Em setembro de 2001, ele afirmou que a civilização ocidental era superior à islâmica e disse que o Afeganistão não poderia ser chamado de nação. Em novembro daquele ano, após os ataques do 11 de Setembro, ele enviou tropas italianas ao país para participar do esforço de reconstrução depois da invasão liderada pelos Estados Unidos.

Amigo próximo do presidente George W. Bush (2001-2009), em 2003 apoiou a Guerra no Iraque e mandou um contingente ao país após a captura de Saddam Hussein, apesar dos protestos nas ruas italianas contra a operação.

Em 2005, Berlusconi renunciou ao cargo para remodelar seu governo, após ter perdido as eleições regionais. Perdeu a votação nacional para Prodi, em 2006, em uma das disputas mais acirradas da história da Itália. Ele se recusou a reconhecer a derrota e alegou irregularidades.

Em dezembro, fez uma cirurgia no coração para colocar um marcapasso três semanas depois de ter desmaiado enquanto discursava na região da Toscana.

Com um golpe estratégico, reunificou suas hostes sob uma só bandeira e um partido único, o Povo da Liberdade, fruto da fusão entre a Aliança Nacional (AN) e sua própria chapa, Forza Itália (FI) – uma jogada que permitiu a ele, em 2008, chegar novamente ao poder.

Em 2009, foi estimado que, em 20 anos, Berlusconi enfrentou 2,5 mil audiências em 106 julgamentos. Seu governo passou por reformas que reduziram o prazo de prescrição para crimes como fraude, mas parte de uma lei que concedia imunidade temporária a ele e outros ministros foi derrubada em 2010.

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