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”Operação Natal Branco” caça imigrantes ilegais na Itália

Quando a neve cai sobre a cidade de Coccaglio, no sopé dos Alpes italianos, o cenário é idílico.

 

Na frente da igreja do século 18, os flocos de neve cobrem uma magnífica árvore de Natal, quase tão alta quanto a torre romana do lado oposto. Mas, nessa cidade de 8 mil habitantes, situada entre Milão e Veneza, a aproximação da mais sagrada festa da cristandade vem sendo comemorada de uma maneira especial.

 

Por ordem da prefeitura local, controlada pela conservadora Liga do Norte, a polícia está fazendo batidas casa a casa em busca de imigrantes ilegais, uma ação chamada de Operação Natal Branco.

Cerca de 3 mil pessoas realizaram uma manifestação contra essa operação, qualificada pelo Vaticano de "lamentável e preocupante". Mas ela foi endossada pelo governo de Silvio Berlusconi.

Ao visitar Brescia, cidade vizinha, quando anunciou a abertura de um campo de detenção para suspeitos imigrantes ilegais – chamado de Centro de Identificação e Expulsão -, o ministro do Interior de Berlusconi, Roberto Maroni, líder da Liga do Norte, cumprimentou o prefeito de Coccaglio. "A Operação Natal Branco foi realizada em outras cidades com outros nomes e ninguém protestou", disse ele. "Essas são iniciativas que servem para controlar e combater o fenômeno da imigração ilegal. Não se trata de racismo."

A população não-italiana registrada em Coccaglio aumentou de 177 para 1.562 pessoas em dez anos, até 2008. Em Brescia, os não-italianos superam em número os nativos e o centro da cidade é rodeado de açougues especializados em carne preparada segundo as leis islâmicas, mercados africanos, bazares chineses e pontos de venda de kebab.

 

FÚRIA

 

As desconfianças dos imigrantes transformaram-se em fúria no mês passado, na cidade vizinha de Coccaglio, quando um marroquino foi preso suspeito de atacar e estuprar uma mulher. Segundo testemunhas, ele quase foi linchado quando era escoltado da chefatura de polícia.

Franco Claretti, prefeito de Coccaglia, confirmou que a operação policial terminará no dia de Natal, mas disse que esse fato foi uma coincidência e o título Natal Branco tinha sido inventado pelo editorialista de um jornal local e não pela prefeitura.

Mas as pessoas que criticam a operação não acreditam nisso. "Desde o início eles não negaram", disse Umberto Gobbi, diretor de uma emissora de rádio local que organizou a manifestação de protesto no mês passado. Para ele, a Liga do Norte faz um jogo de provocação e negação, para manter a situação sempre tensa.

"A Operação Natal Branco é parte de uma competição para ver quem provoca mais."O prefeito disse que tentou deixar as coisas muito claras quando foi contactado pelos meios de comunicação, mas que uma reportagem publicada posteriormente trouxe um elemento explosivo, um comentário atribuído a um dos membros da Câmara Municipal que teria afirmado que "Natal não é uma festa de hospitalidade, mas uma tradição cristã, da nossa identidade".

Em sua paróquia, nos arredores de Brescia, o padre Mario Toffari, que dirige o escritório diocesano da pastoral de assistência a imigrantes, também levantou dúvidas a respeito. "Se foi isso que ocorreu, o que ele tinha de fazer era se retratar", disse o padre.

A Liga do Norte utiliza com frequência símbolos cristãos para alcançar seus próprios objetivos, "e o símbolo da cristandade não pode ser usado contra nenhuma pessoa", acrescentou. Claretti disse que a polícia enviou cartas informando aos imigrantes cujas autorizações de permanência expiraram para provarem ter entrado com um novo pedido. Mas, segundo o prefeito, o procedimento normal é enviar uma carta convidando o interessado a comparecer à prefeitura. Enviar a polícia era "como dizer que essas pessoas podem ser perigosas e têm de ser submetidas a um controle especial".

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