Francesco Schettino, capitão do navio que naufragou na costa da Itália, admitiu à polícia a culpa pelo acidente, informou a imprensa italiana. Mais cedo, jornais locais denunciaram a presença de uma misteriosa mulher que estaria acompanhando o comandante na noite do incidente. Os dois teriam inclusive fugido no mesmo bote antes da maioria dos passageiros, relataram testemunhas.
Jornais italianos divulgaram trechos do depoimento do comandante à Promotoria de Grosseto. No testemunho, dizia que “conhecia muito bem as profundidades da zona (perto da ilha de Giglio)”, mas ordenou “muito tarde” a volta. Schettino está em prisão domiciliar e pode pegar até 15 anos de cadeia por abandono do navio e por homicídio culposo múltiplo.
Mais cedo, a presença de uma mulher misteriosa no barco elevou as suspeitas sobre o comandante. Um jovem, de 25 anos, estaria com Schettino no momento do naufrágio. Domnika Certoman, que tem origem na Moldávia, confirmou que estava com o capitão na cabine de comando. Mas disse que estava no Costa Concordia a trabalho, sob a função de tradutora.
A imprensa italiana informou que não havia registro – nem de passageira, nem de tripulante – de Domnika no cruzeiro. Mas a Costa Cruzeiro, empresa que administra o navio, disse que a jovem embarcou “regurlamente”. A companhia se prontificou a entregar o cartão de embarque de Domnika à Justiça.
Em entrevista à uma TV da Moldávia, Domnika defendeu Schettino e negou que ele tenha abandonado o navio, como todas as provas indicam até agora. A mulher disse que deixou o barco por volta das 23h40, e que Schettino continuou a bordo. A jovem descreveu o comandante como um “herói”.
Ela explicou que foi por causa de sua função de tradutora que se reuniu com os oficiais na cabine de comando do navio no início do naufrágio. A Promotoria, no entanto, aposta na hipótese de que o acidente tenha sido produzido pela falta de atenção do capitão Schettino, por isso quer interrogar Domnika. – Acredito que ele (Schettino) fez um excelente trabalho, toda a equipe está em dívida com ele. (Ele) Salvou mais de três mil pessoas – disse a mulher, contradizendo todas as provas que indicam que Schettino abandonou o navio antes dos passageiros.
De acordo com uma testemunha, a jovem também jantou com o capitão na noite do naufrágio. Schettino foi visto comendo no restaurante mais chique do Costa Concordia vestido de uniforme. O comandante teria comido e bebido vinho em abundância.
Passageiros descreveram a mulher como loira, magra e bonita. Ela estaria vestindo um vestido preto sem mangas.
Em fita, tripulação aparece negando socorro.
Uma gravação, divulgada nesta quinta-feira, mostra o que seria o primeiro contato entre a capitania dos portos italiana e o Costa Concordia depois de o navio bater em uma rocha no litoral da Toscana, na sexta-feira passada. No áudio, um tripulante aparece dizendo a um oficial que a embarcação tinha apenas sofrido um “blecaute”.
A conversa começou por volta das 22h10, cerca de meia hora depois do acidente. Nesse meio tempo, muitos passageiros desesperados já tinham ligado para familiares para pedir que a polícia fosse acionada.
– Boa noite, Costa Concordia, por favor, vocês estão com problemas a bordo? – perguntou um membro da Guarda Costeira.
Um tripulante então responde:
– Tivemos um blecaute, estamos checando as condições a bordo.
O oficial insistiu, dizendo que havia recebido uma ligação de um parente de um passageiro que contou que “tudo estava caindo em sua cabeça durante o jantar”. O tripulante, no entanto, garantiu que havia sido só uma interrupção de eletricidade e prometeu manter o guarda costeiro informado.
Buscas por desaparecidos são retomadas
As buscas por desaparecidos, que haviam sido suspendidas na quinta-feira, foram retomadas pela manhã. Pelo menos 24 pessoas ainda não foram encontradas. Mergulhadores tentam também entrar na cabine do comandante, que está na parte submersa do cruzeiro, em busca de documentos que possam explicar os últimos momentos do Costa Concordia antes do acidente.
Na última terça-feira, Schettino voltou a dar depoimento na Promotoria de Grosseto, mas negou que tenha abandonado o barco. Segundo o comandante, ele caiu acidentalmente do navio dentro de um bote salva-vidas. A imprensa italiana diz ter tido acesso ao relato do capitão. Segundo jornais, Schettino teria admitido que cometeu um erro de navegação, afirmando que “ordenou a volta muito tarde” enquanto o cruzeiro se aproximava da ilha de Giglio.
