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POLÊMICA CONTINUA: Habitantes de L’Aquila reclamam do descaso do governo após 15 meses do terremoto

 

Quinze meses depois do terremoto que devastou L'Aquila e deixou 308 mortos e 30 mil desabrigados, o governo italiano enfrenta uma série de problemas, ainda sem solução.

A cidade – na região central da Itália – vive uma crise econômica, as casas construídas às pressas não são suficientes e os moradores protestam há meses contra o que chamam de descaso das autoridades.

Recentemente, a onda de protestos chegou à capital italiana, Roma, onde a polícia reprimiu com violência uma manifestação para exigir a suspensão de impostos e protestar pelo abandono em que se encontram. Os manifestantes, cerca de cinco mil segundo a imprensa local, gritaram a todo momento "Vergonha, vergonha" contra o governo. Duas pessoas ficaram levemente feridas. "Viemos fazer um pedido coletivo de ajuda e estamos sendo espancados", disse, na ocasião, o prefeito de L'Aquila, Massimo Cialente.

"O problema é bastante simples", afirmou ao Opera Mundi Sara Vegni, porta-voz do comitê cidadão 3e32 (em referência à hora do terremoto de 6 de abril de 2009). "Temos demandas básicas: a suspensão dos impostos durante cinco anos – com a devolução do dinheiro em 10 anos sem juros – e emprego, pois 16 mil de 72 mil pessoas em idade de trabalhar, não trabalham. O governo decidiu voltar a cobrar impostos desde o dia 1º de julho, embora não tenhamos casa, emprego ou dinheiro”, explicou.

 

Segundo a ativista italiana, a economia local foi completamente danificada após o terremoto e os moradores precisam de ajuda emergencial. “São necessárias medidas para reativar a economia, totalmente paralisada no último ano. Todos os recursos são necessários. Cogitamos pedir a implementação pelo governo de um imposto direcionado à L’Aquila, ou uma contribuição solidária."

Durante a manifestação em Roma, o secretário do opositor Partido Democrata (PD), Pierluigi Bersani, mostrou ser a favor de "um imposto cuja arrecadação seja destinada a L'Aquila."

 

As condições da população são ruins desde o dia seguinte ao terremoto. Segundo as associações civis que se organizaram de modo espontâneo, o governo teve uma abordagem diferente na gestão da crise. "Normalmente, depois de um terremoto, há três fases distintas de reconstrução", explicou Sara. "A primeira é o uso de tendas, substituída pela segunda fase, depois de um mês no máximo, com módulos habitacionais removíveis. Na terceira fase, ocorre a verdadeira reconstrução das casas dos moradores. Aqui, a segunda fase foi ignorada”, contou.

De acordo com ela, os habitantes de L’Aquila tiveram de morar em acampamentos durante sete meses – numa das cidades mais frias do país. “O governo [do primeiro-ministro Silvio] Berlusconi propôs um plano de reacomodação em lugares fora dos centros onde as pessoas moravam e gastou muito dinheiro, cerca de 3,4 mil dólares [seis mil reais] por metro quadrado."

 

As “casas Berlusconi”, como são chamados os complexos de casas, modificaram radicalmente a paisagem local e têm sido criticadas pelas associações e moradores de L’Aquila, principalmente por causa da rapidez com que foram organizadas as licitações para as empresas de construção, acusadas de terem promovido especulação imobiliária e de serem corruptas. Além disso, as estruturas dos 59 municípios afetados pelo terremoto foram alteradas pela construção sem plano urbanístico das novas casas. 

As novas residências foram instaladas longe dos centros, deixando de lado uma característica essencial das cidades italianas, a maioria contruída durante o período medieval. Fundada por um projeto do imperador Frederico II, em torno de 1230, com o nome de Áquila, a cidade se tornou Aquila degli Abruzzi em 1861 e L'Aquila  em 1939. Justamente o fato de ter sido planejada dá ao urbanismo de L'Aquila um valor ainda maior.

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