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Ex-primeiro-ministro italiano Romano Prodi critica falta de solidariedade na Zona do Euro

O Euro sobreviverá porque o seu fim representa um custo demasiado elevado tanto para a Alemanha como para as economias do sul, mas ainda faltam instrumentos e suficiente solidariedade para o defender, afirmou o ex-primeiro-ministro italiano Romano Prodi.

"É moda dizer que o euro vai acabar, mas a Europa é mais forte do que muitos pensam", afirmou o ex-presidente da Comissão Europeia, numa conferência da IESE Business School em Barcelona.

"O euro sobreviverá, ninguém tem interesse em romper o euro, porque os alemães perderão também a sua posição. Os restantes países também não podem porque se saírem, a desvalorização destruirá a economia", sublinhou.

Numa intervenção em que se referiu à "falta de solidariedade" entre os líderes europeus para defender a própria zona euro e a Europa, Prodi deu como exemplo a crise grega que, pela sua dimensão, "poderia ter sido resolvida numa noite".

"A Grécia representa 2 por cento do PIB europeu. Poderíamos ter resolvido isto numa noite, mas a opinião pública alemã, num ambiente populista, de não querer ajudar os PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha) atrasou isso", afirmou.

Numa intervenção subordinada ao tema "Perspetivas e desafios para a Europa no contexto actual", Prodi – que liderou a Comissão Europeia entre 1999 e 2004, período que inclui a transição para o Euro – recordou que a Europa já ultrapassou outras crises no passado.

"Mesmo os alemães não querem sair do euro, porque é o euro que está a ajudar os alemães a serem mais ricos que qualquer um. Quando tinham o marco, nós, com as nossas moedas, éramos artistas a desvalorizar as nossas moedas, sempre que havia problemas", recordou.

Para Prodi, a visão eleitoralista, a curto prazo, da chanceler alemã Ângela Merkel, ajudou a aumentar a desconfiança dos investidores que "há dois ou três anos" compravam títulos da dívida e agora vivem "verdadeiro histerismo sem que a base da economia tenha mudado significativamente".

Considerando que nos últimos meses o papel da própria Comissão Europeia tem sido marginalizado e que o BCE "não pode ser o instrumento para defender a Europa em momentos tão difíceis como os atuais", Prodi referiu-se ainda aos diálogos a nível europeu.

"Ouvimos semanas e semanas de declarações, cimeiras e mais cimeiras e declarações de boas intenções. Mas depois temos uma Europa que, na realidade, não avança nem com as decisões colectivas, nem com a estratégica franco-alemã", disse.

Uma estratégia, ironizou, em que "Merkel dita as regras e Sarkozy dá a conferência de imprensa".

"Precisamos de genuína, forte, capacidade de decisão colectiva. Temos que ter instrumentos especiais para tranquilizar o público e os investidores. Isso leva a que tenhamos que pensar, seriamente, em eurobonds que creio que são inevitáveis", disse.

O responsável acrescentou que "temos que ter cuidado com o que pedimos aos países. Os gregos já tomaram todas as decisões que podiam. Se fizerem mais, a Grécia morre".

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