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Procurador italiano que luta contra a máfia vai para a Guatemala

O procurador italiano Antonio Ingroia, que mais que outros colegas vinculou seu nome à investigação sobre as negociações entre o Estado e a máfia, deixará a Procuradoria de Palermo para ocupar por um ano um cargo importante das Nações Unidas (ONU) na Guatemala. Sua designação gerou fortes polêmicas porque Ingroia partirá durante o curso de um processo na Itália contra "líderes mafiosos", ex-ministros e figuras do Estado, e em relação ao qual se abriu um conflito de atribuições com o presidente da República, Giorgio Napolitano.

Ingroia, na verdade, acabou de assinar o pedido para processar várias pessoas e não estará presente no tribunal para sustentar a acusação. A lista de acusados, encabeçada por grandes chefões da Cosa Nostra – entre os quais Salvatore Totò Riina e Bernardo Provenzano, também inclui os ex-ministros Calogero Mannino e Nicola Mancino, além do senador Marcello Dell'Utri, que por muitos anos foi um dos braços direitos do ex-premier Silvio Berlusconi.

Ingroia deixa a investigação depois de um dos choques institucionais mais difíceis da história republicana, pelo qual membros do partido de Berlusconi disseram que teriam preferido que o procurador enfrentasse o debate. Um deles foi Nicoló Zanon, integrante do Conselho da Magistratura, que criticou duramente a designação de Ingroia na Guatemala.

A aprovação de deixar o Ministério Público de Palermo e seguir para a Guatemala foi concedida a Ingroia pelo plenário do Conselho Superior da Magistratura, com 17 votos a favor, 4 contra e 3 abstenções. 

"O procurador vai embora deixando atrás um si um pedido de julgamento sem precedentes. Seria preferível um procurador que, em vez de ir para a Guatemala, encarasse o debate, para ver o quanto suas hipóteses acusatórias se sustentam", disse Zanon.

Sob outro enfoque, o líder do Movimento 5 Estrelas, Beppe Grillo, um grupo que já há algum tempo é muito popular na Itália, comparou o novo cargo do procurador a um "confinamento" no país da América Central, aludindo aos exilados do regime de Benito Mussolini.

Em seu blog, Grillo observou que é fácil associar a transferência de Ingroia com a forte pressão exercida sobre Napolitano. O procurador protagonizou as polêmicas desatadas por escutas telefônicas indiretas ao chefe de Estado.

O comediante genovês comparou o novo cargo do magistrado a um "exílio propriamente dito, como nos tempos de Mussolini. A diferença é que hoje as figuras incômodas são enviadas muito mais longe. Antes era Eboli (no sul da Itália, província de Salerno) e hoje é a Cidade da Guatemala".

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