Catolicismo Romano

“Quaresma, tempo de se dedicar à penitência com afinco” – Por Padre Marcos Mattke, IBP

Caríssimos.
Salve Maria,

Quaresma – tempo de se dedicar à penitência com afinco. Penitência, a qual é necessária para a salvação como ensinou Nosso Senhor. “Se não fizerdes penitência, perecereis todos” S. Lucas 13, 3.

Infelizmente, com o relaxamento da disciplina eclesiástica, os sacrifícios deixaram de fazer parte notável da vida católica. Não se jejua mais durante toda a Quaresma, ou durante a maior parte dela. A abstinência de carne imposta ainda hoje aos católicos às sextas-feiras, e expressa no Código Canônico, pode ser comutada por qualquer outra oração ou sacrifício, os jejuns e abstinências das quatro-têmporas não existem mais de modo obrigatório, etc. Tudo isso, que fazia parte da vida católica, se enfraqueceu muito e o espírito de penitência e de reparação pelos nossos pecados e pelos dos outros encontra-se em um estado que deixa muito a desejar.

Assim é necessário ter, sobretudo hoje, uma grande dedicação à penitência. Mas não basta mover a vontade, é necessário ordenar a prática da penitência com a razão. E por isso é necessária a instrução.

De modo geral, o fiel não precisa pedir conselho ou orientação para fazer penitências *ordinárias*. Mas para penitências mais severas ou que durem um tempo mais longo, é necessário recorrer à opinião de um padre ou diretor espiritual bem como muita prudência.

Devemos saber o que faremos. Por isso é necessário estabelecer os própositos de quaresma. Senão, sem um foco, a boa vontade se esvai em um piscar de olhos.

Os propósitos devem ser três, pois os gêneros de obras tradicionalmente apresentadas aos fiéis são três: jejum, esmola e oração. Devem eles ser: factíveis (não, e.g., “vou fazer uma peregrinação à pé até a tumba de São Tomé em Goa na Índia” ou “vou ler a Suma inteira”), compatíveis com o dever de estado (e.g., seria absurdo um pai de família se retirar de casa durante quarenta dias); que não causem problemas de saúde (e.g., passar todas as noites em claro meditando); concretos (nada de, e.g., “vou ser bom com o próximo”, “vou rezar mais”).

Eis, portando, algumas sugestões:

Jejum:
O jejum, diz a Igreja em sua liturgia, reprime os vícios, eleva a alma, aumenta as virtudes, nos dá grandes prêmios (Prefácio da Quaresma).

Consta no Código de Direito Canônico (1983): “Cân. 1252 — Estão obrigados à lei da abstinência os que completaram catorze anos de idade; à lei do jejum estão sujeitos todos os maiores de idade até terem começado os sessenta anos. Todavia os pastores de almas e os pais procurem que, mesmo aqueles que, por motivo de idade menor não estão obrigados à lei da abstinência e do jejum, sejam formados no sentido genuíno da penitência.”

O jejum consiste numa refeição completa e duas menores que juntas são menos que uma refeição inteira. Gestantes, mães que amamentam e doentes devem, evidentemente, evitar jejuar, e estão mesmo dispensadas quando é dia em que a Igreja obriga os fiéis a jejuar. Aqueles que têm trabalhos pesados também devem ser prudentes quanto ao jejum. Não se jejua nos domingos e dias de festa (Festa de São José e da Anunciação, por exemplo).

Outras obras semelhantes de mortificação física e que são propostas aos fiéis como penitências são:

– comer mais daquilo que não se gosta e menos das coisas preferidas;

– comer normalmente nas refeições, mas não comer nada entre o café da manhã e o almoço, nem entre o almoço e a janta;
– atrasar em 15-30 minutos as refeições, se possível (não se faz isso se for prejudicar a rotina da família ou do trabalho);
– não tomar líquidos durante a refeição, e mesmo entre as refeições (se a saúde permitir);
– abster-se de prezares lícitos, como ouvir música, sobremesa, açúcar;
– levantar-se 15-30 minutos mais cedo;
– não dormir após o almoço;
– dedicar-se com diligência às necessidades da casa, como lavar os pratos, varrer, ajudar no jardim, etc;
– suportar sem queixa o frio ou o calor;
– evitar adornos e maquiagens;
– privar-se de fazer algum comentário ou de manifestar opinião, mesmo em coisas lícitas;
– não falar de si mesmo;
– rezar de joelhos por um tempo maior do que se está habituado;
– rezar com os braços em cruz, se o diretor permitir;
– tomar banho frio;
– dormir no chão uma vez ou outra, se o diretor permitir;
– não perder tempo com superficialidades;
diminuir notavelmente o uso do celular e internet, usando-os para o que é necessário, somente;
estudar seriamente, por um tempo já determinado de antemão;

Esmola:
É louvável dar esmolas para quem precisa de ajuda. A esmola alcança o perdão de nossas culpas. Ao dar esmola, não é necessário, nem se deve, fazer uma investigação pormenorizada da condição e da honestidade de quem pede, salvo quando se trata de grande quantia, afinal dar esmola não é sinônimo de fazer um contrato empresarial. É uma obra de caridade, não de justiça, e por isso não precisa ser antecedida de uma grande inquisição sobre a honestidade da pessoa que pede. É melhor, como regra geral, dar muitas pequenas esmolas do que poucas de grande valor. É melhor, também, dar comida ou material de higiene do que dinheiro. Porém, é necessário reconhecer que às vezes um pobre precisa de dinheiro para outra coisa e que ele não é obrigado a expor seus problemas pessoais. Não se está obrigado a dar esmola para quem dá sinais suficientemente claros de que pede algo usando de mentira e falsidade. Não se deve dar esmola para quem não está com pleno uso da razão (e.g. bêbado ou drogado) ou expressa que utilizará para fins imorais. Outras obras semelhantes são:

– emprestar prontamente o que nos pedem, sem apego;

– aumentar um pouco se possível, durante a Quaresma, uma ajuda material que se faz a alguém ou instituição de modo regular;
– oferecer alguma leitura, se a ocasião se apresenta, que seja piedosa a uma pessoa que precise;
– reservar um tempo para estar a serviço dos outros (sem esperar receber nada em troca).
– consolar e encorajar as pessoas que se mostram desanimadas na prática da virtude;
– aproximar-se de alguém com a qual se tem antipatia, e ajudá-la prontamente;
– perdoar aquela pessoa para com a qual se guarda rancor (rezar pedindo essa graça);
– visitar algum doente e/ou algum membro da família que precise;

Oração:
– ir em mais alguma(s) missa(s) ao longo da semana;

– acrescentar mais um terço ao longo do dia, ou ao menos alguma(s) dezena(s);
– retificar as intenções antes de agir, agindo não para ser estimado ou reconhecido, mas para agradar a Deus;
– oferecer a Deus as calúnias recebidas, humilhações, insucessos; não se queixar;
– fazer a Via Sacra nas sextas-feiras;
– visitar o Ssmo. Sacramento por 10-15 minutos todos os dias, ou alguns da semana, e de joelhos;
– confissão logo após alguma queda grave ;
– obedecer prontamente;
– falar bem de uma pessoa para com a qual se tem inveja, e rezar por ela;
– ser fiel à oração mental diária;
– acrescentar mais 10-15 minutos à oração mental;
– fazer 10-15 minutos de leitura espiritual todos os dias, em horário fixo (após café da manhã, ou antes de dormir, por exemplo);
– fazer exame de consciência antes de dormir, ou mesmo em dois momentos do dia (depois do almoço: o que fiz até o almoço; antes da janta: o que fiz entre o almoço e a janta);
– fazer um exame de consciência diligente e ir se confessar;
– ler sobre algum ponto do catecismo ou da doutrina católica que ignora ou sabe que conhece de modo fraco;
– ler uma biografia de um santo (evitar as biografias muito resumidas e simplificadas, e mais ainda as biografias sentimentais);
– examinar qual é o próprio defeito dominante e fazer sérios esforços para vencê-lo;
– oferecer algum sacrifício pelas almas do purgatório;
– instruir-se sobre as cerimônias da Semana Santa, para assisti-las com  maior devoção.

Outras tantas penitências possíveis podem ser vistas em outros lugares e inspiradas pelo amor a Deus, e Deus as recompensará certamente.

É necessário, também, evitar a pusilanimidade. Uma pessoa jovem ou adulta tem condição de ser, de fato, mais generoso, e de se exigir mais, do que uma criança ou pessoa idosa.

Em todas as penitências deve-se agir com discrição, mas sem receio de que sejam, necessariamente, visíveis aos outros. Não há qualquer problema, por exemplo, em que um pai de família ou outro membro da família jejue de modo visível aos outros membros da casa. Basta que seja feito sem clamor e com simplicidade, e por amor a Deus, e Deus abençoará o que é feito. Evitem-se, porém, toda originalidade, excentricidade e exageros. Imite-se o que é feito pelas pessoas piedosas e de bom senso, evitando toda singularidade.

Deus lhes abençoe!

*Padre Marcos Mattke, IBP*

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