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“Queremos tirar Assad, mas sem vácuo para terrorismo”, diz ministro italiano, Paolo Gentiloni

O ministro das Relações Exteriores da Itália, Paolo Gentiloni, afirmou que a comunidade internacional tenta encontrar uma solução política para a Síria que faça o ditador Bashar al-Assad deixar o poder, mas não abra espaço para a atuação de grupos terroristas, como o Estado Islâmico (EI, ex-Isis).

Em visita oficial ao Brasil, o chanceler disse, em entrevista exclusiva à ANSA, que daqui a algumas semanas ocorrerá uma outra reunião em Viena com representantes de 17 países, além da União Europeia (UE) e das Nações Unidas (ONU), para determinar quais serão os alvos das operações militares internacionais. "Neste encontro, tentará se chegar a um acordo com todas as partes sobre quais são os grupos terroristas identificados. Isso permite que os alvos sejam estabelecidos", disse o chanceler. Gentiloni também explicou que, atualmente, existe uma "coordenação técnica cujo objetivo é a prevenção de incidentes entre a Rússia e os Estados Unidos" durante as operações militares em território sírio e iraquiano – ambos parcialmente dominados pelo EI –. O chanceler, porém, pontuou que não há coordenação política com Moscou nem previsões para ingresso na coalizão internacionais.

"Queremos a saída de Assad, mas através de um processo político que não dê espaço ao terrorismo. Neste processo político específico, o papel da Rússia pode contribuir de modo construtivo", comentou o representante da Farnesina. Desde o fim de setembro, a Rússia bombardeia alvos na Síria sob o argumento de combater o avanço do Estado Islâmico. Os países europeus e os Estados Unidos, que desde 2014 fazem operações militares no território, veem a ação de Moscou como uma justificativa para, na verdade, atacar rebeldes do regime e fortalecer Assad. Na primeira rodada de negociações em Viena, ocorrida no último dia 30, os participantes pediram esforços para iniciar um processo político eleitoral na Síria e conquistar um cessar-fogo.

Fontes do Ministério da Defesa da Itália e dos EUA afirmaram que Washington acatara o pedido de Roma de armar dois drones, modelos General Atomics MQ-9 Reaper, com mísseis terra-ar, bombas e lasers. De acordo com especulações, a autorização foi genérica e até o momento não se refere a nenhuma missão específica no exterior. Desde o início da guerra civil na Síria, em 2011, sob os ares da Primavera Árabe, mais de 200 mil pessoas morreram, seis milhões foram deslocadas e quatro milhões viraram refugiadas, provocando a maior crise migratória na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Gentiloni, que amanhã (5) terá uma agenda no Itamaraty, em Brasília, afirmou que o Brasil tem desenvolvido um papel importante nas operações de resgate no Mar Mediterrâneo, já que integra a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) e assumirá em breve o comando naval do destacamento, que atualmente está com o italiano Paolo Sandalli.

Por estar territorialmente no Mediterrâneo, a Itália é uma das principais portas de entradas de imigrantes à Europa. Apesar da distância geográfica, durante o discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, a presidente Dilma Rousseff disse que o Brasil "é um país de refugiados" e reiterou sua disponibilidade em receber vítimas dos confrontos no norte da África e no Oriente Médio.

Para o chanceler, além das missões no Mediterrâneo, Brasil e Itália possuem laços culturais e assuntos de interesse em comum.

"Os governos dos dois países mantiveram boas relações nos últimos 15 anos, com contribuições significativas no plano internacional, como a dinâmica interna na América Latina, a luta contra a pobreza, a defesa pelos Objetivos do Milênio e ações pontuais de apoio aos desempregados e jovens". Gentiloni também recordou que a 21ª Conferência das Partes (COP-21) , que ocorre em dezembro, em Paris, para estabelecer um novo acordo mundial sobre o clima, será outra ocasião de protagonismo para os dois países. "O Brasil será um player importante tendo em vista sua dimensão", disse o chanceler, confessando que discutiu o tema com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma reunião em São Paulo, e que o assunto estará na pauta de seus encontros em Brasília. Gentiloni ficará no Brasil até amanhã (5). Em São Paulo, além da reunião com Lula, ele participou de um fórum de investimentos na sede da Fiesp com o presidente Paulo Skaf. Nesta quinta-feira, o chanceler se encontrará com o vice-presidente do país, Michel Temer, e visitará os ministérios da Defesa, das Relações Exteriores, da Economia e do Meio Ambiente.

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