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Roma comemora os 140 anos de sua anexação ao Reino da Itália

Roma comemorou nesta segunda os 140 anos de sua anexação ao Reino da Itália, que marcou o fim do Estado Pontifício, em uma cerimônia que pela primeira vez contou com a presença do secretário de Estado vaticano, cardeal Tarcisio Bertone.

"Nossa presença neste acontecimento é o reconhecimento da indiscutível verdade de Roma capital da Itália e também como sede do sucessor de Pedro", disse Bertone a jornalistas em alusão aos Pactos de Latrão, que instituíram o Estado da Cidade do Vaticano em 1929.

O aniversário de 20 de setembro, uma das datas mais significativas na história da Itália, recorda o dia em que os "bersaglieri" (soldados da infantaria), sob o comando de Raffaele Cadorna, abriram uma brecha nos Muros Aurelianos, nas imediações de Porta Pia, e entraram em Roma.

Até então, a Itália – que conseguira sua unificação em 1861- convidara em vão, reiteradas vezes, os Papas a deixarem seus domínios temporais. Só depois da queda de Napoleão III, imperador francês, contrário ao desaparecimento do Estado Pontifício, conseguiu a anexação de Roma.

Naquela época, o papa Pio IX teve que se retirar e aceitar a oferta do Vaticano, de Latrão (Laterano) e da vila papal de Castel Gandolfo.

O cardeal Bertone participou da cerimônia ao lado do presidente italiano Giorgio Napolitano, para comemorar os caídos em um clima que se pode definir como de reconciliação. O cardeal inclusive escreveu uma prece para as vítimas.

A presença do secretário de Estado vaticano só tem um precedente, quando em 1970 o cardeal Angelo Dell'Acqua, por ordem de Paulo VI, celebrou uma missa pelo centenário e definiu "providencial" a violação da Porta Pia. 

O gesto está em sintonia com o empenho, já iniciado pela Conferência Episcopal Italiana (CEI) em vista das comemorações pelos 150 anos da Unidade da Itália, incentivado pela Igreja para favorecer o sentimento de unidade nacional e enterrar definitivamente qualquer controvérsia.

O episódio de Porta Pia, de fato, deixou feridas profundas. Completou o processo de unificação nacional, permitiu a conquista de Roma e a sua declaração como capital do Reino da Itália, mas para a Igreja foi um golpe duríssimo que significou o fim do poder temporal dos Papas, "confinados" no mais limitado Estado da Cidade do Vaticano.

Durante longo tempo as relações com o Vaticano foram difíceis, pelo menos até os Pactos de Latrão de 1929, que curaram a ferida. Mas nunca se vira até agora tamanha cordialidade nas relações, a ponto de reunir o presidente italiano com o máximo colaborador do Papa para homenagear os 68 mortos (49 soldados italianos e 19 pontifícios).

Na oração de Bertone, que assistiu junto ao prefeito romano Gianni Alemanno à colocação de uma coroa de flores sobre o monumento aos caídos, se elogiou o sacrifício daqueles que deram suas vidas para defender um ideal frente aos "bersaglieri" em busca da conquista de Roma.

Durante a comemoração, realizada em frente à Porta Pia, o secretário de Estado do Vaticano afirmou que o aniversário representa "o resgate da liberdade pelo pastor e pela Igreja universal e também da concórdia entra a comunidade civil e a eclesial, que trabalham juntas pelo bem do povo italiano". 

O presidente Napolitano recebeu o título de cidadão honorário "em reconhecimento de seu compromisso nos campos da cultura, da política e da administração do Estado, e da sua constante atenção – civil e institucional, à nossa cidade, a cujo prestígio na Itália e no mundo sempre deu sua significativa contribuição", segundo o prefeito de Roma, Gianni Alemanno.

Em resposta, Napolitano, que é natural da província de Nápoles, se disse muito ligado à capital. "Estou ciente de que a homenagem que me foi atribuída é inseparável da função que exerço à frente do Estado", disse ele, lembrando que seus filhos nasceram em Roma e que sua esposa vive ali desde garota.

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