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Vitória de italiano evidencia isolamento de seu país na União Europeia

A inesperada vitória de um italiano para comandar o Parlamento da União Europeia manteve o país em um dos postos de liderança no bloco, mas, paradoxalmente, evidenciou o isolamento de seu governo em Bruxelas.

David Sassoli, 63 anos, um conhecido jornalista com uma década de experiência no Europarlamento, foi eleito com 345 dos 751 votos possíveis e derrotou os candidatos dos Verdes (Ska Keller), da extrema direita (Jan Zahradil) e da extrema esquerda (Sira Rego).

A vitória foi possível graças ao apoio tácito dos três grupos que comandarão a UE na nova legislatura: os conservadores do Partido Popular Europeu (PPE), os centro-esquerdistas do Socialistas e Democratas (S&D), ao qual pertence Sassoli, e os liberais do Renovar Europa, que não apresentaram candidatos oficiais.

A vitória foi construída à revelia do governo italiano, cujos partidos não fazem parte das forças majoritárias em Bruxelas. A Liga, que lidera a oposição de extrema direita no Europarlamento, votou em Zahradil, enquanto o Movimento 5 Estrelas (M5S) deu liberdade de consciência a seus membros, mas é improvável que Sassoli, integrante do Partido Democrático (PD), tenha recebido apoio expressivo da sigla antissistema.

“A Itália ficou totalmente de fora”, criticou o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que votou em branco, “apenas porque Sassoli é italiano” – a única legenda da península a apoiar o jornalista abertamente foi o Partido Democrático (PD), que integra o S&D.

“Foi uma bela eleição, respeitosa com o voto dos italianos e dos europeus. Será muito bonito ter alguém de esquerda presidindo [o Parlamento da UE]”, ironizou o ministro do Interior e vice-premier da Itália, Matteo Salvini.

Em sua primeira coletiva de imprensa como chefe do Legislativo europeu, Sassoli já indicou que pode comprar briga com Salvini em um tema caro ao ministro: as ONGs que salvam migrantes no Mediterrâneo. “Estou aqui há 10 anos, e as ONGs sabem que a porta do Parlamento Europeu está sempre aberta. Aliás, a abriremos ainda mais”, disse.

Isolamento

A Itália tinha três dos cinco cargos mais cobiçados na União Europeia, mas ficará apenas com um, e por meio de um político de oposição ao governo.

Na legislatura anterior, o país detinha as presidências do Parlamento Europeu (Antonio Tajani) e do Banco Central Europeu (Mario Draghi) e o posto de alta representante para Política Externa (Federica Mogherini), porém somente o primeiro ficará em mãos italianas.

O BCE deve ser assumido pela diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), a francesa Christine Lagarde, enquanto a diplomacia europeia passará ao espanhol Josep Borrell. Já as outras duas “joias da coroa”, as presidências da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, passarão, respectivamente, para a ministra da Defesa da Alemanha, Ursula von der Leyen, e para o primeiro-ministro da Bélgica, Charles Michel.

O premier da Itália, Giuseppe Conte, por sua vez, voltou de Bruxelas comemorando o fato de o país ter obtido uma garantia informal dos outros líderes de que escolherá o novo comissário europeu (espécie de ministro) da Concorrência, que deve ser um expoente da Liga, partido de Salvini.

“Teremos a pasta mais estratégica para o interesse dos cidadãos italianos”, disse Conte, antes de acrescentar: “Minha prudência me manda dizer que não tenho a garantia na mão, um texto escrito, mas há perspectivas muito concretas”.

O comissariado para Concorrência ganhou certo destaque nos últimos anos devido às ações antitruste contra grandes empresas, mas está longe de ser a pasta financeira mais importante, como a de Assuntos Econômicos e a do Euro, que cuidam de questões orçamentárias e relativas à moeda comum. (Ansa)

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