O escritor, dramaturgo e diretor italiano Dario Fo, falecido aos 90 anos, deixou um vasto repertório de obras literárias.
Suas mais de 100 publicações mostravam uma visão única e inquieta sobre a sociedade, baseadas em muita pesquisa e com uma criatividade ímpar no mundo das artes.
Conheça algumas das principais obras do multifacetado artista: – "Darwin ma siamo scimmie da parte di padre o di madre?" ("Darwin, nós somos macacos por parte de pai ou de mãe?", em tradução livre) foi lançado no dia 20 de setembro deste ano e foi a última obra publicada pelo autor.
O livro é repleto de questionamentos sobre a origem da vida e sobre a humanidade, além de contar com desenhos do próprio escritor. "Eu quis recontar a história das descobertas que o maior cientista disse ao mundo inteiro. Por que? Porque somos ignorantes e não sabemos de onde viemos ou o porquê", disse Fo durante coletiva de imprensa sobre seu livro.
– "Mistero Buffo" (1969) é considerada uma das obras primas de Dario Fo e já foi adaptada para peças de teatro até no Brasil. A obra reúne mais de 20 monólogos que tem como base os "mistérios" contados em Bíblia cristã, porém retratados de maneira "profana" e questionadora – como ocorria nos tempos medievais.
É uma crítica à Igreja e suas burocracias em forma de jogral, mas também às atitudes dos fiéis que são muitas vezes contraditórias com a sua fé. É basicamente uma comédia crítica e irônica que representa a cerne dos trabalhos de Dario Fo.
– "Morte Acidental de um Anarquista" (1971) foi traduzida para vários idiomas e também foi adaptada em peças de teatro pelo mundo, sendo sua obra mais reproduzida pelos palcos. O livro tem como base fatos reais, mas através da comédia traz questionamentos sobre a vida e a organização em sociedade.
A obra se baseia na morte do anarquista milanês Giuseppe Minelli, que foi acusado de participar de atentados terroristas na cidade e que teria "se suicidado" – jogando-se do prédio da delegacia da cidade em 1969. Usando muita ironia e sarcasmo, Fo ambienta a história na busca policial por um suposto "doente mental", que assume diversas identidades. Ele teria "provas" de que o suicídio de um anarquista foi, na verdade, um assassinato cometido por policiais.
A peça de teatro e consequente livro sobre a trama causou mais de 40 processos contra o escritor que, para evitar mais problemas, adaptou a obra para ambientá-las nos Estados Unidos, mais precisamente na Nova York da década de 1920, onde um fato semelhante ocorreu com Andrea Salsedo.
– "L'Anomalo Bicefalo" ("O anômalo bicéfalo", em tradução livre), de 1999, que escreveu ao lado da esposa Franca Rame, ironiza o ex-premier italiano Silvio Berlusconi e trata sobre questões políticas, econômicas e judiciais do "Cavaliere". Na peça, Fo interpreta um premier que, após perder a memória por causa de um acidente, começa a falar a verdade sobre tudo que fez durante sua vida.
A obra também foi alvo de processos e chegou a ser proibida de ser transmitida pela televisão temporariamente por causa da ação do político Marcello Dell'Ultri, citado em processos relacionados a Berlusconi.
– "Quasi per caso una donna: Cristina di Svezia" ("Uma mulher quase por acaso: Cristina da Suécia", em tradução livre), que foi o último livro escrito pelo italiano e será lançado em dezembro deste ano, conta a história da soberana que reinou entre os anos de 1632 e 1654.
Com seu olhar peculiar sobre a história, Fo retrata a mulher "fora do comum" e que foi educada por seu pai como se fosse um homem.
Com uma extensa pesquisa histórica, o italiano reescreveu – com um bom toque de imaginação – a época em que Cristina viveu e a "extraordinária" individualidade da rainha. Destacando a soberana como uma "heroína" de seu tempo, Fo conta as lutas de poder e as guerras – além dos amores femininos vividos por Cristina. (Ansa)