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Declaração de líder do Eurogrupo causa revolta na Itália

Uma polêmica declaração do holandês Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, órgão que reúne os ministros de Economia da zona do euro, causou revolta na Itália e na Espanha e ameaça provocar um racha na esquerda europeia.   

Em entrevista ao jornal alemão “Frankfurter Allgemeine Zeitung”, Dijsselbloem criticou o comportamento dos países do sul da Europa que sofreram com uma dura crise econômica nos últimos anos e tiveram de recorrer a Bruxelas para obter empréstimos ou flexibilidade em seus orçamentos.   

“Durante a crise do euro, os países do norte demonstraram solidariedade com as nações afetadas. Como social-democrata, dou grande importância à solidariedade. Mas também existem deveres.   

Não se pode gastar todo o dinheiro em álcool e mulheres e depois pedir ajuda”, disse o chefe do Eurogrupo, que pertence ao Partido Trabalhista da Holanda, por sua vez filiado ao Partido dos Socialistas Europeus (PSE).   

A declaração provocou reações imediatas em países como Itália e Espanha, que, ao lado de Portugal e Grécia, foram os mais atingidos pela crise. Em um post em seu perfil no Facebook, o ex-primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, um dos principais expoentes do PSE, cobrou a renúncia imediata de Dijsselbloem.   

“O presidente do Eurogrupo perdeu uma ótima ocasião para ficar calado. Em uma entrevista a um jornal alemão, se deixou levar por piadas estúpidas – não encontro palavras melhores – contra os países do sul da Europa, a começar por Itália e Espanha. Acho que gente como Dijsselbloem, que até pertence ao Partido dos Socialistas Europeus, ainda que não tenha percebido, não merece o lugar que ocupa. O quanto antes ele se demitir, melhor”, escreveu.   

Renzi ainda lembrou que o Partido Trabalhista sofreu uma dura derrota nas eleições na Holanda, há uma semana, e obteve apenas 5,7% dos votos. “Isso nos diz que é certo combater os populistas, mas é preciso fazê-lo sem deixar de ser popular. Do contrário, torna-se engrenagem da tecnocracia. Há líderes na Europa que se esforçam para receber o voto de parentes próximos”, acrescentou.   

O líder dos socialistas europeus, o também italiano Gianni Pittella, foi outro a criticar o suposto aliado. “Não é a primeira vez que Dijsselbloem exprime opiniões econômicas e políticas que contradizem a linha da família progressista europeia”, disse.   

Já o ministro de Economia da Espanha, Luis de Guindos, de orientação conservadora, chamou as declarações do presidente do Eurogrupo de “infelizes”. “Esperava que ele fosse se retratar”, afirmou o espanhol, após Dijsselbloem ter se recusado a pedir desculpas, negando tratar-se de uma disputa “norte contra sul”.   

No entanto, Guindos não cobrou a renúncia do holandês, embora seja cotado para substituí-lo.   

Ministro de Economia de seu país desde 2012, Dijsselbloem pode perder o cargo devido à debacle de seu partido nas últimas eleições, vencidas pelo premier liberal Mark Rutte. Na ocasião, outras legendas superaram o Partido Trabalhista e devem ocupar seu espaço no governo.   

Com isso, a continuidade de Dijsselbloem no comando do Eurogrupo ficaria inviável.

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