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Morre na Itália o jornalista e diretor Gualtiero Jacopetti, um dos iniciadores do gênero documental

O jornalista e diretor italiano Gualtiero Jacopetti, um dos iniciadores do gênero documental que escandalizou a Itália com seus trabalhos, faleceu aos 91 anos em sua casa em Roma. Jacopetti era originário de Barga, toscano por descendência e opção, vivia em um sótão longe da agitação da cidade do cinema que, por um breve período, o adotou simultaneamente como um diabo e um herói. Jacopetti nasceu em 4 de setembro de 1919 e marcou uma época do jornalismo e do cinema italiano, em que fotografou tempos de medo e de delírio em fins dos anos 50 e princípios dos 60. Tanto isso é verdade que Federico Fellini se inspirou nele para criar o personagem de Marcello Rubini (vivido por Marcello Mastroianni), um repórter cínico e tímido de "La Dolce Vita".

Naquela época Jacopetti tinha a Via Veneto a seus pés: era jornalista, se envolveu em escândalos, foi processado e preso, seduzia as mulheres e se deixava seduzir por elas. De olhos azuis, cabelos pretos e um eterno sorriso zombeteiro, ele abriu seu próprio caminho no mundo da informação e do cinema.

"No exterior Mondo Cane e Africa Addio se tornaram objeto de culto e estudo", disse certa vez em uma entrevista a Barbara Palombelli. "Já na Itália me chamaram de tudo quanto é nome: racista, fascista, e fui acusado de assassinato. Nos tribunais ficou provado que era tudo falso", acrescentou.

Jacopetti sempre negou ser fascista e se definia como "liberal e anticomunista", reverenciava Indro Montanelli, seu primeiro diretor de jornal e foi inspirado pela sua visão laica do mundo.

Começou sua carreira de jornalista na Áustria, aonde chegou clandestinamente depois de fundar um movimento anticomunista para as eleições de 48.

Era um apaixonado por viagens e desafios radicais, viajou várias vezes à África e conheceu a prisão, acusado de abusar sexualmente de uma menor de idade, com a qual se casou.

Na década de 50 fundou seu primeiro jornal e junto com seu amigo Carlo Prosperi produziu seu primeiro filme. Em 1961 estrearam "Mondo Cane", que provocou polêmicas de todos os tipos e estabeleceu um tipo de cinema chamado "Mondo".

"Mondo Cane" viaja por culturas exóticas de todo o mundo e a trilha sonora de Riz Ortolani ('More') foi candidata a um Oscar e foi um grande sucesso daquele ano.

"Addio Zio Tom", "La Donna nel Mondo" e "Africa Addio" são outras obras de Jacopetti reconhecidas.

A receita do sucesso de seu trabalho era sempre a mesma, um gênero documentário sugestivo, provocador, com pontos de vista cínicos, indiferença para com os padrões éticos da Igreja e do comunismo e um individualismo agressivo e ostensivo.

"No início dos anos 80 fui chamado por Berlusconi, que queria me confiar sua emissora de TV, mas depois me explicou que não poderia fazê-lo por conta do veto dos socialistas. Hoje, já um pouco desarmado, teria vontade de procurá-lo: eu sou feito assim, gosto dos perdedores", disse ele naquela oportunidade. 

Sua vida pessoal também foi bastante conturbada. Depois de deixar sua primeira esposa, se casou com a atriz Belinda Lee. Em 1961 ambos sofreram um terrível acidente, no qual ela perdeu a vida e Jacopetti saiu ferido. O cinema lhe fechou as portas após várias produções mal sucedidas inspiradas no modelo original (a última foi "Mondo Candido") e começou um lento declínio narrado no livro-entrevista "Mondo cane addio" publicado na internet em 2010 por Marcello Bussi.

Ainda hoje é difícil dizer quem foi Gualtiero Jacopetti: certamente um inovador da linguagem jornalística e do documentário, certamente um "cane sciolto" (algo como 'cão rebelde'), primeiro reverenciado e depois caluniado; certamente um homem solitário e incapaz de sair do círculo de sua genialidade e de suas obsessões.

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