
O Papa Leão XIV visitou a sede da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em Roma, e afirmou que o uso da fome como arma é um crime de guerra, além de criticar a “apatia” da sociedade diante de desigualdades”.
O compromisso se deu por conta do aniversário de 80 anos da entidade e ocorreu cerca de uma semana após o pontífice americano lançar sua primeira exortação apostólica, a “Dilexi te”, na qual faz um amplo chamado para enfrentar todas as formas de desigualdade.
“Os cenários dos conflitos atuais estão fazendo retornar o uso da alimentação como arma de guerra, afastando cada vez mais aquele consenso expresso pelos Estados que considera a fome deliberada como crime de guerra, assim como impedir intencionalmente o acesso de povos inteiros à comida”, disse o Papa em seu discurso.
Leão XIV também lembrou que o direito internacional humanitário proíbe, sem exceções, ataques contra civis e bens essenciais para a sobrevivência das populações. “Com tristeza, somos testemunhas do uso contínuo dessa cruel estratégia que condena homens, mulheres e crianças à fome, e não podemos continuar assim”, afirmou.
Para Robert Prevost, é preciso “mobilizar todas as energias disponíveis, em um espírito de solidariedade, a fim de que não falte a comida necessária para ninguém no mundo, tanto em quantidade como em qualidade”.
“A cinco anos da conclusão da Agenda 2030, precisamos recordar com força que alcançar o objetivo de fome zero será possível somente se houver uma vontade real de fazê-lo, e não apenas declarações solenes”, salientou.
Em seu discurso, o Papa ainda reiterou a importância do multilateralismo diante de “tentações nocivas que tendem a surgir como autocráticas” e de ouvir as demandas dos países pobres, sem impor a eles “soluções fabricadas em escritórios distantes”.
“Slogans não nos tiram da pobreza. Apelar à solidariedade não basta: precisamos garantir a segurança alimentar, o acesso aos recursos e o desenvolvimento rural sustentável”, destacou Leão XIV, que ainda cobrou uma “mudança de estilo de vida” na sociedade.
“Não podemos aspirar a uma vida social mais justa se não estivermos dispostos a nos libertar da apatia que justifica a fome como se fosse uma música de fundo à qual nos acostumamos, um problema insolúvel ou simplesmente uma responsabilidade alheia. Por nossa omissão, tornamo-nos cúmplices na promoção da injustiça. Não podemos esperar um mundo melhor se não estivermos dispostos a compartilhar o que recebemos”, declarou.