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Procuradoria convoca médico responsável por eutanásia da italiana Eluana Englaro

A Procuradoria Geral da Itália convocou o chefe da equipe médica responsável pelo procedimento de eutanásia de Eluana Englaro, no que pode ser visto como mais uma tentativa do Estado de interromper o processo.

 

O motivo seria uma nova investigação sobre os depoimentos de amigos e parentes de Eluana segundo os quais ela, antes do coma, teria expressado o desejo de morrer se ficasse inválida, afirmação fundamental para o sinal verde da magistratura a favor da família.

 

O drama de Eluana, que vive há 17 anos em estado vegetativo, causou grande polêmica no país e teve repercussão internacional. O governo italiano e o Vaticano se opuseram publicamente ao processo.

 

Eluana, de 38 anos, sofreu um acidente de carro em 1992. Após quase uma década de batalhas na Justiça, sua família conseguiu autorização para realizar a eutanásia, alegando que esse era o desejo da paciente. A eutanásia foi autorizada pela Corte de Apelações de Milão no dia 9 de julho de 2008 e confirmada pela Corte Constitucional três meses depois

 

Além do médico responsável pelo processo, a Justiça italiana convocou o advogado da família para comparecer à Procuradoria Geral, sem divulgar as razões da convocação. O início do protocolo de eutanásia está agendado para ter início nesta quinta-feira. Tecnicamente, os médicos da clínica Le Quiete, em Udine, noroeste da Itália, já poderiam suspender a hidratação e alimentação de Eluana, mas o neurologista da paciente afirmou que o processo deve começar na sexta feira.

 

O governo italiano já havia tentado interromper a eutanásia de Eluana na quarta-feira. O ministro da Previdência Social, Maurizio Sacconi, afirmou que a clínica geriátrica não seria confíável para praticar a eutanásia. Segundo Sacconi, a clínica não teria equipamento apropriado para a prática e nem poderia terceirizar o atendimento. As declarações do ministro foram vistas como mais um indício de que o governo quer manter Eluana viva.

 

A clínica afirma ter as condições ideais para a execução da sentença judicial.

 

Para o advogado de Beppino Englaro, pai de Eluana, "a decisão de seguir em frente está coberta pela Justiça italiana".

 

O protocolo sobre a eutanásia aprovado pela magistratura prevê a redução gradual da alimentação artificial três dias após a internação de Englaro. A falta de proteínas, gordura, água e açúcar é compensada pela aplicação de sedativos para evitar prováveis convulsões no organismo da paciente.

 

Todos os membros da equipe, entre médicos e enfermeiros, são voluntários reunidos pela associação Per Eluana (Para Eluana), criada para aplicar a sentença emitida pela Justiça. Segundo especialistas, o óbito pode acontecer entre 10 e 21 dias, dependendo do quanto Eluana, já debilitada pelas suas condições físicas, resistiria à falta de nutrição.

 

Desde o acidente que sofreu em 1992 a jovem virou o símbolo da luta pelo direito de morrer na Itália – onde a prática da eutanásia é proibida. Campanhas a favor e contra o suicídio assistido se espalharam pelo país através de manifestações públicas e pela internet.

 

Na Itália, sede territorial da Santa Sé, a Igreja Católica exerce forte influência sobre o Parlamento e a sociedade. O Vaticano chegou a declarar que a morte de Eluana equivaleria "a um assassinato".

 

O presidente da organização dos bispos italianos, Ângelo Bagnasco, disse à emissora católica Sat2000, que "este é um momento muito grave e muito triste na história do nosso amado país. A morte de Eluana será uma grave ferida na cultura da Itália".

 

O Movimento pela Vida, associação de católicos, instalou uma barraquinha nas imediações da clínica Le Quiete e fundou um comitê denominado Per Eluana e tutti noi (Para Eluana e todos nós). Os seus integrantes aceitam doações de garrafas de água como forma de protesto contra a suspensão da hidratação e da alimentação da paciente. E os membros mais radicais da organização não descartam a possibilidade de fazer greve de fome quando o protocolo médico for aplicado na paciente.

 

O caso aumenta a pressão sobre o poder legislativo pela criação de uma lei que regularize o testamento biológico e outras questões relativas ao fim da vida. O ministro da Justiça, Angelino Alfano, disse que um projeto de lei já está sendo analisado.

 

Ele veta a interrupção de alimentação e hidratação de pacientes vegetativos. Para ganhar tempo, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi indicou a hipótese de emitir um decreto-lei, mesmo correndo o risco de criar um conflito com o poder judiciário e de não conseguir a aprovação do presidente da Itália, Giorgio Napolitano.

 

Se o governo conseguir passar o decreto-lei nestes termos o protocolo de morte de Eluana perde valor e devera ser suspenso.

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