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RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO SOCIAL: Italianos ficaram mais cautelosos, após grave crise econômica

A sociedade italiana está vivendo cada vez mais em "uma letargia existencial coletiva" e no pensamento em viver "dia por dia". É o que aponta o Censis no 49º Relatório sobre a Situação Social apresentado em Roma.

"Uma letargia existencial coletiva e a vitória da crônica sozinha. Há hoje uma perigosa pobreza de interpretação sistêmica, de projetos para o futuro, de ideias na programação para o médio prazo. Prevalece uma dinâmica de opinão colocada de maneira na qual o pensamento é de dia por dia", escreveu a entidade.

Segundo o documento que introduziu a apresentação dos dados, atualmente "vencem os interesses particulares, o subjetivismo, o egoísmo e não amadurecem os valores coletivos e uma unidade de interesses".

Para o órgão, esse sentimento na população "faz crescer as desigualdades". "Em resumo, há uma espécie de 'limbo itálico', feitos de meios tons, meias classes, meios partidos, meias ideias e meias pessoas", ressaltou.

Os resultados apresentados apontam para a cautela que tomou conta dos italianos nos últimos anos e, em parte, é explicado pelos medos que uma recessão pode deixar na memória de um povo.

Desde 2008, a economia do país apresentou uma forte recessão e apenas neste ano os dados começaram a voltar para o azul.

Outro índice que só apresentou a melhoria em 2015 foi o desemprego.

Antes acima dos 13%, o número de pessoas sem ocupação começou a cair desde janeiro e, atualmente, está em 11,5%.

Ao apresentar os números, o Censis afirmou que o valor do patrimônio financeiro dos italianos é de mais de 4 trilhões de euros, um aumento de 6,2% entre junho de 2011 e junho de 2015.

Pela primeira vez desde o início da crise, a quantidade de famílias que aumentaram a própria capacidade de despesas no último ano foi maior do que aquelas que reduziram (25% contra 21%). O Censis afirma que este "é um dado que sinala uma forte descontinuidade com o passado recente". Ao mesmo tempo, ampliou-se para 20% o número total de famílias que não conseguem cobrir todas as suas despesas com a sua própria renda.

Outro ponto interessante da pesquisa é que há uma mudança significativa no comércio italiano. De acordo com o estudo, entre 2009 e 2015, houve uma queda de 10% nas lojas de ferramentas, lojas em geral, livrarias e açougues enquanto foi registrado um aumento expressivo nos serviços de delivery (37%), no número de restaurantes (15,5%), bares (10%) e sorveterias/padarias (8%).

O estudo ainda apontou que há quatro grandes regiões urbanas na Itália, compostas por cerca de 900 cidades e com uma população de 17 milhões de habitantes. Em seu interior, estão as três maiores cidades italianas (Roma, Milão e Nápoles) e o complexo de comunas de Vêneto (Veneza, Pádua, Treviso e Vicenza). Além disso, há sete regiões urbanas "médias", com cerca de 260 comunas e 8,9 milhões de habitantes, entre as quais Turim, Gênova, Bolonha, Florença e Bari. Há ainda um grupo de sete pequenas regiões urbanas, que correspondem a 180 comunas e 4,4 milhões de moradores, entre as quais estão Verona, Palermo e Catânia.

Estrangeiros: As condições dos estrangeiros que moram regularmente na Itália é muito diferente daquela que caracteriza as periferias francesas ou as áreas periféricas de Londres. No país, os imigrantes têm uma trajetória de classe média, diferenciando-se assim das situações de concentração étnica e de marginalização social que ocorrem em outras áreas da Europa.

Entre 2008 e 2014, os donos de empresas estrangeiras aumentaram em 31,5% (sobretudo no comércio, onde há 40% de todas as empresas guiadas por eles, e na construção, que tem 26% delas), enquanto os donos italianos de estabelecimentos diminuíram 10,6%. Para mostrar a rápida integração, um questionamento do instituto revelou que para 44% dos entrevistados é italiano quem nasceu no país e para 33% é italiano quem viveu na Itália por um determinado período de tempo (não importando o local de nascimento). Apenas 19% dos questionados respondeu que italiano é quem tem pais nascidos no Estado.

A integração também ocorre através dos alimentos, como não poderia deixar de ser. Nove em cada 10 estrangeiros que moram na Itália acreditam que a comida é um elemento capaz de facilitar o encontro entre pessoas e entre culturas. E, realmente, 40,5% destas pessoas disseram que já preparam pratos de sua tradição para os italianos e 37,1% contaram que já ensinaram receitas de seus próprios países aos moradores locais.

A cozinha italiana entra nas cozinhas das famílias estrangeiras e convive com receitas tradicionais dos países de origem, sendo que às vezes elas são integradas e às vezes adaptadas com sabores e ingredientes estrangeiros. Entre aqueles que sabem cozinhar (74,9% dos estrangeiros que vivem no país), a maior parte declara que está pronto para preparar pratos e receitas italianas. Cerca de 62% informou ter aprendido as receitas com os amigos, conhecidos ou colegas de trabalho italianos enquanto 33% usa sua curiosidade e a prática cotidiana e 25,7% os programas de televisão.

Mídia e Papa: Segundo o levantamento feito pelo Censis, o "fenômeno midiático" de 2015 é o papa Francisco. Para 77,9% dos moradores, o "carisma de Jorge Bergoglio" é um dos pontos de maiores forças do catolicismo.

A pesquisa mostrou ainda que quase a totalidade dos italianos assiste televisão (96,7%). Houve um aumento, de 1,6% nos números da audiência das web TVs e de 4,8% na visualização de programas televisivos nos dispositivos móveis. Além disso, 10% dos moradores possuem as "smart TVs" em casa. Também o rádio tem uma grande difusão de massa (83,9%).

O acesso à internet continua aumentando, com um crescimento de 7,4% e uma penetração de 70,9% na população italiana. As conexões móveis mostram grande vitalidade, com os smartphones tendo um crescimento de 12,9% e com 50,2% dos italianos dizendo que utilizam o celular regularmente. Os tablets também dobraram seus números, com um italiano em cada quatro utilizando o equipamento. Aumentou ainda a presença dos italianos no Facebook, frequentado por 50,3% da população, enquanto o YouTube tem 42% de usuários e o Twitter conta com 10,1%.

Ao mesmo tempo, a mídia impressa não para de perder leitores. Houve uma retração de 1,6% no número de leitores de jornais e de 11,4% para as publicações de revistas, sejam semanais ou mensais. Por outro lado, houve crescimento no número de pessoas que acompanham os jornais online (2,6%) e daquelas que seguem outros tipos de portais de informações (4,9%).

Outra retração foi constatada no número de italianos que leem livros, com queda de 0,7%. Ao todo, 51,4% dos moradores do país informaram ter lido, ao menos, um livro em 2014, e os e-books (livros digitais) tiveram uma audiência de 8,9% (aumento de 3,7%).

Consumo: Na questão do consumo, a pesquisa revelou que os italianos estão cada vez mais comprando através da internet. Ao todo, 15 milhões de cidadãos compraram algum item na web, sendo que 2,7 milhões deles adquiriram produtos alimentares. O acesso aos serviços bancários é praticado por 46% dos usuários da internet. Já na questão de transporte, houve um aumento no número de pessoas que utilizam o "car sharing", que é o uso dos veículos pessoais de maneira compartilhada. Segundo o Censis, 4% dos italianos (cerca de dois milhões de habitantes) utiliza o sistema e o percentual aumenta para 8,4% entre os mais jovens. 

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