O adiamento de um programa popular feito pela televisão estatal italiana para evitar afastar os telespectadores de um programa rival com Silvio Berlusconi está sendo criticado. A decisão é vista como intervenção para dar publicidade positiva ao primeiro-ministro.
O chefe da comissão parlamentar que fiscaliza a TV estatal RAI pediu nesta segunda-feira uma reunião para analisar o fato de a rede ter adiado um episódio de "Ballaro" para reforçar a audiência de um especial "Porta a Porta" sobre casas novas para os sobreviventes de um terremoto.
A maneira prática como Berlusconi reagiu ao terremoto de 6 de abril na região de Abruzzo reforçou sua popularidade antes de ele ser atingido por escândalos relacionados a seus vínculos com mulheres. Ele vem divulgando como grande realização a entrega de casas novas aos sobreviventes do abalo.
Berlusconi deve aparecer no programa Porta a Porta nesta terça-feira.
Sergio Zavoli, presidente da comissão parlamentar, disse que a decisão tomada de última hora de adiar o programa Ballaro contradisse o objetivo dos horários de programação e falou que sua comissão vai avaliar a seriedade do caso.
O apresentador do programa Ballaro, Giovanni Floris, exigiu uma explicação, e a oposição criticou a iniciativa. Um político de esquerda, Ignazio Marino, perguntou se a decisão de adiar o programa foi tomada pelo gabinete de Berlusconi.
"A entrega das primeiras casas aos sobreviventes do terremoto deve ser mostrada em um programa, mas não há necessidade de convertê-la em espetáculo de mídia em favor do primeiro-ministro", disse o líder da oposição de centro-esquerda, Dario Franceschini.
A RAI defendeu a decisão, dizendo que o programa que atrairia mais atenção foi priorizado e que se evitou um conflito entre programas com temáticas semelhantes.
"O Ballaro poderá ir ao ar na quinta-feira e falar de Abruzzo", disse o apresentador Bruno Vespa, de Porta a Porta. "Não me parece uma restrição tão monstruosa à liberdade de imprensa."
Críticos dizem que Berlusconi, envolvido em escândalos em torno de suas relações com mulheres e sua presença em festas com garotas de programa, exerce influência excessiva sobre a televisão italiana, já que é dono da emissora Mediaset e seu governo nomeia os membros do conselho de direção da RAI.
No mês passado, Berlusconi disse que seria "inaceitável" a RAI fazer críticas ao governo.