Na cidade de Foggia, no sul da Itália, a companhia de transportes municipal instituiu uma linha especial de ônibus para os imigrantes não europeus, irregulares no país, que estão aguardando asilo político.
O percurso dos ônibus é o mesmo, mas existem duas linhas separadas.
Uma para os residentes da Borgata Mezzanone, na periferia de Foggia, onde também está situado o centro que hospeda os refugiados à espera de asilo político, Cara, na sigla em italiano. A outra linha é exclusivamente para os imigrantes, que devem ir do centro de permanência até a estação ferroviária.
A decisão está provocando polêmica. O prefeito da cidade alegou motivos de comodidade e de segurança para explicar a decisão de abrir duas linhas separadas. Aconvivência entre imigrantes e residentes não é fácil, segundo ele.
"Muitas vezes houve brigas", disse o prefeito, Orazio Ciliberti, da coalizão de centro esquerda, aos jornais italianos.
Segundo o prefeito, imigrantes teriam agredido motoristas de ônibus, que chegaram a pedir escolta da polícia durante o trajeto do ônibus.
Ele responsabilizou pela situação o instituto que hospeda os estrangeiros, que estaria lotado. Por causa disso, segundo ele, aumentou o clima de tensão entre estrangeiros e moradores.
"O centro está super lotado. Ao invés de 200 ou 300 imigrantes, que é quanto pode hospedar, está com quase mil", disse.
A Associação das Comunidades Estrangeiras, no entanto, não acredita que tenha havido pressão por parte da comunidade italiana para que houvesse ônibus diferentes para italianos e estrangeiros.
Segundo o presidente da Associação, em Foggia, Habib Ben Sghaier, uma delegação de moradores do bairro Borgo Mezzanone, o contatou para dizer que não haviam feito pedido de duas linhas separadas de ônibus.
"Não é assim que se faz a integração. Isto é racismo", disse Habib ao jornal La Repubblica.
Sem atritos
"Não há racismo, mas a necessidade de oferecer um serviço melhor, evitando que os hóspedes do centro façam um caminho mais comprido", argumentou o prefeito.
Ele admitiu que a medida foi tomada para evitar atritos entre italianos e estrangeiros.
"É uma medida de prevenção, indicada pela secretaria da segurança para diminuir os atritos entre a população e imigrantes", afirmou Ciliberti ao jornal La Stampa.
Na avaliação do pároco do bairro, no entanto, o problema é simplesmente a falta de serviços e má administração dos transportes. Ônibus super lotados que acabam criando tensão entre os passageiros.
"Se os serviços fossem melhores, muitos problemas entre moradores e imigrantes teriam sido evitados", afirmou D. Domenico.
Nicky Vendola, presidente da Região Puglia, onde está situada a cidade de Foggia, sugeriu que sejam colocados mais ônibus para evitar esta separação, que já foi definida pela imprensa nacional como "apartheid" italiano.
"A administração de Foggia deve aumentar o serviço de transporte para todos e abolir o quanto antes a linha especial para os extra comunitários, que parece uma separação", disse Vendo