Os líderes dos principais países da Europa demonstraram apoio ao bombardeio dos Estados Unidos contra a base militar síria de Shayrat, perto da cidade de Homs, mas advertiram o presidente Donald Trump de que a ação deve ser “limitada” para evitar uma escalada na tensão.
A operação norte-americana foi uma resposta ao ataque químico realizado na província de Idlib e atribuído ao mandatário da Síria, Bashar al Assad, que deixou mais de 80 mortos, incluindo 30 crianças. O bombardeio dos EUA matou pelo menos cinco pessoas, sendo três soldados e dois civis.
“A Itália compreende as razões de uma ação militar proporcional nos tempos e nos modos, como resposta a um inaceitável senso de impunidade”, declarou o ministro das Relações Exteriores da Itália, Angelino Alfano. Pouco depois, a posição foi reforçada pelo premier Paolo Gentiloni, que disse que a ação dos EUA foi motivada “por um crime de guerra”.
“Quem faz uso de armas químicas não pode contar com atenuantes e mistificações. A ação desta madrugada aconteceu na base aérea da qual tinham partido os ataques com uso de armas químicas. Contra um crime de guerra cujo responsável é o regime de Assad”, acrescentou o primeiro-ministro italiano durante uma coletiva de imprensa em Roma, logo após ter conversado por telefone com o presidente da França, François Hollande, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
Por meio de um comunicado conjunto, os líderes das duas maiores potências da União Europeia culparam o presidente sírio pelo aumento das tensões no país. “França e Alemanha seguirão os esforços com seus parceiros dentro da ONU para sancionar de modo apropriado os atos criminosos e o uso de armas químicas vetado pelos tratados”, diz a nota.
Uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas terminou em fracasso após a Rússia ter obstruído uma resolução condenando Damasco pelo ataque químico. Contudo, apesar do apoio, os europeus ressaltaram a importância de retomar as negociações de paz na nação árabe.
“Os EUA definiram sua ação como pontual e limitada, não como etapa de uma escalada militar. Há um compromisso comum para que a Europa contribua para a retomada das negociações na Síria.
Estou convencido de que as ações desta madrugada acelerarão a chance para a tratativa política”, salientou Gentiloni.
A opinião foi compartilhada pelo ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Sigmar Gabriel. “Tanto é compreensível o ataque militar dos EUA quanto é agora decisivo chegar a esforços comuns para a paz, sob a égide das Nações Unidas”, disse.
Menções de apoio à ação de Washington também vieram do Reino Unido, que desponta como maior aliado da Casa Branca no cenário internacional, e da Turquia, que tem papel importante no conflito sírio e pede a queda de Assad.
Segundo a imprensa britânica, a primeira-ministra Theresa May considera “adequada” a resposta norte-americana ao “bárbaro” ataque químico. Já o vice-premier turco, Numan Kurtulmus, chamou a operação de “positiva” e ainda afirmou que ela deveria continuar até a derrubada do regime.
Críticas – Os países que mais se opuseram ao ataque norte-americano foram a Rússia, principal escudo de Assad, e o Irã, que também luta para manter o presidente sírio no poder.
Para Moscou, a ação química atribuída a Damasco foi apenas um “pretexto”, e a decisão de bombardear o país árabe já havia sido tomada antes do episódio de Idlib.
“Esse passo de Washington provoca um dano notável às relações russo-americanas, que já se encontram em um estado deplorável”, afirmou o porta-voz do presidente Vladimir Putin, Dmitry Peskov.
O Kremlin foi informado com antecedência do ataque norte-americano, já que possui forças alocadas na Síria.
Segundo Moscou, rebeldes já iniciaram uma “vasta” ofensiva contra as tropas de Assad. Além disso, o Ministério da Defesa russo anunciou um plano para reforçar a proteção aérea do país árabe. “Uma ação unilateral é perigosa, destrutiva e viola os princípios do direito internacional”, declarou o Ministério das Relações Exteriores do Irã.
A operação norte-americana disparou 59 mísseis Tomahawk, que possuem médio alcance e são invisíveis a radares, de dois navios ancorados no mar Mediterrâneo. A ação aconteceu poucos dias depois de a Casa Branca ter dito que o destino de Assad não estava entre suas “prioridades”.
A decisão de bombardear a Síria foi tomada no dia seguinte ao ataque químico em Idlib e em um momento em que Trump enfrenta diversos desafios na política interna, desde as polêmicas sobre sua cruzada anti-imigração até o fracasso na aprovação de um novo sistema de saúde.
Nos últimos meses, diversas pessoas ligadas ao republicano foram acusadas de manter estreito contato com o Kremlin, que ainda teria patrocinado um ataque cibernético para ajudar o magnata nas eleições do ano passado.